Battle Royale: Livro mostra cruel batalha pela sobrevivência

Por: Carl

Koushun TAKAMI
Editora GLOBO LIVROS
2014
664 págs.

SINOPSE: Em um país totalitário, o governo cria um programa anual em que uma turma do ensino fundamental é escolhida para participar de um jogo. Os estudantes são levados para uma área isolada, onde recebem um kit de sobrevivência com uma arma para se proteger e matar os concorrentes. Uma coleira rastreadora é presa no pescoço de cada um deles. O Jogo só termina quando apenas um estudante restar vivo. Ao final do Programa, o vencedor é anunciado nos telejornais para todo o país. As regras do jogo foram criadas de maneira que não haja uma forma de escapar. E a justificativa da matança é mostrar para a população como o ser humano pode ser cruel e como não podemos confiar em ninguém – nem mesmo no nosso melhor amigo da escola.

Já jogaram paintball?

Vou explicar o óbvio, porque acredito que a maioria sabe o que é: dois times se enfrentam em rodadas de cinco minutos em um terreno hostil com armas de ar comprimido ou CO2, que atiram pequenas bolas de plástico com tinta dentro. Quem é acertado, fica com a roupa manchada e sai da rodada. É uma brincadeira que deixa a pessoa cansada, não apenas pelo esforço físico, mas principalmente pela adrenalina de se manter “vivo” no jogo. Agora vamos trocar as bolas de tinta por balas de pólvora, o terreno hostil por uma ilha abandonada e a rodada de cinco minutos pelo tempo de sua vida.

Esse é o clima de BATTLE ROYALE.

Os 42 estudantes da turma B do nono ano da Escola de Ensino Fundamental Shiroiwa, da Província de Kagawa, 21 meninos e 21 meninas, são os felizes escolhidos pelo Supremo Líder, para participarem do programa governamental, onde pode sobrar apenas um vivo. É uma forma de controlar a população e manter a ordem. Ninguém sabe qual escola terá uma das turmas selecionadas, e os estudantes só descobrem quando são sequestrados e levados para uma das muitas ilhas preparadas como arenas de morte.

Cada um dos estudantes recebe uma mochila com mantimentos, um mapa da ilha com quadrantes desenhados (existe um nas contracapas dianteira e traseira do livro), e uma arma aleatória, que pode ser uma faca, um revólver, uma metralhadora, uma besta, uma granada ou até veneno.

Durante o jogo, alguns quadrantes se tornam proibidos e ninguém deve permanecer neles, do contrário, a coleira que levam presa ao pescoço explode. A ilha é cercada por barcos com homens armados, o que torna a fuga, aparentemente, impossível. Se ninguém morrer no período de doze horas, um dos estudantes é escolhido e tem a coleira ativada. Também são anunciados, de tempos em tempos, por alto-falantes espalhados pela ilha, o nome de cada estudante que já morreu.

Devido à grande quantidade de personagens, o leitor tem o auxílio de uma lista com o nome e o número de cada um dos estudantes. Mesmo assim, por causa da semelhança de alguns nomes, fica um pouco confuso e é necessário recorrer aos capítulos anteriores para conseguir acompanhar alguns fatos.

A forma como o autor descreve o relacionamento dos personagens é extremamente inocente em comparação ao ambiente hostil e à matança que os rodeia. A isso, acrescenta histórias de fundo, pensamentos, sentimentos escondidos, segredos, confissões amorosas, de amizade, e todo o turbilhão de emoções que são comuns entre os alunos secundários de uma escola. É fácil o leitor sentir uma identificação imediata por todos e não só com o trio principal, aumentando o choque ao acompanhar as mortes, mesmo aquelas que ocorrem logo nos primeiros capítulos.

E elas são criativas.

Corpos despedaçados por explosões, queimados pelo fogo, decapitados, pescoços cortados, flechadas na cabeça e no coração, suicídios por queda em penhascos, corpos metralhados, cabeças cortadas ao meio, garotas envenenadas (em um trecho que é um dos melhores do livro, mas que eu não soube definir se é trágico ou cômico), entre outras. E tudo descrito com detalhes.

Mas a essência do livro está mesmo com o trio central: Shuya, Nariko e Shogo.

Shuya é aquele menino que sempre está pronto a ajudar, que não tem maldade e que se acha um ninguém, mesmo sendo inteligente, bom nos esportes e popular. Metade das garotas da sala estão apaixonadas por Shuya, sem ele ter a menor ideia disso. Na verdade, ele acha exatamente o contrário. E é cruel que ele descubra conforme cada uma delas morre durante o jogo.

Nariko, óbvio, também é apaixonada por Shuya. E ele por ela, mas de uma forma omissa, uma vez que o melhor amigo dele confessou que tem uma queda por Nariko. Por isso, Shuya não se aproxima. Quando o amigo morre logo no início do livro (ele é um dos primeiros e nas primeiras páginas, por isso não chega a ser spoiler), ele fica dividido entre ser fiel ou se entregar a Nariko. Ela é uma garota frágil, amorosa, mas está disposta a fazer qualquer coisa para proteger Shuya.

E temos Shogo. Ele é o cara! É bom em tudo o que faz e tem um plano para se manter vivo e aos dois amigos. Mais. Ele também pretender se unir aos grupos rebeldes que querem acabar com os jogos e desmascarar o governo corrupto que governa o país. É ambicioso, mas fica claro que mantém a mesma inocência e os mesmos sonhos idealistas comuns a todo o jovem, muitas vezes completamente afastados da realidade e do tamanho de perigo que representam.

Durante a história, existe um dilema entre Shuya, Nariko e Shogo, que se resume a se deveriam convencer os colegas e se unirem como forma de se manterem vivos e encontrarem, juntos, uma forma de escapar da ilha. Shogo é contra, Shuya mantém sua convicção, porque não consegue acreditar que os meninos e meninas que dividiam a sala poderiam se matar de forma tão fria e cruel, e Nariko fica dividida.

Com o avançar da história, Shuya descobre que o ser humano é capaz de qualquer coisa para se manter vivo. O autor não força situações para comprovar essa teoria. Ele apenas apresenta os conflitos e as motivações de cada um dos estudantes. As atitudes que tomam são perfeitamente plausíveis e coerentes com a história de cada um. E é fácil comprovar essa veracidade. Basta comprar um daqueles jornais que vendem nos sinais de trânsito e abrir na seção policial.

Escrito em 1996, BATTLE ROYALE só foi publicado no Japão em 1999 e tornou-se um dos livros mais vendidos e controversos do país. Em 2000, estreou o filme, dirigido por Kinji Fukasaku, que também escreveu o roteiro com o auxílio do próprio Koushun Takami, o que deixou o filme bastante fiel ao livro.

Ele só foi exibido nos EUA em 2002 e, mesmo assim, para uma audiência restrita no estado da Califórnia. Finalmente, em 2011, mais de uma década depois da estréia no Japão, ele chegou ao circuito comercial, o que fez com que muitas pessoas pensassem que ele copiava um determinado filme muito famoso e voraz (não resisti, tinha que mencionar :P), quando era exatamente o contrário.

Também existe um mangá que foi publicado no Brasil pela Conrad entre 2006 e 2011, em 15 edições. Tanto no mangá como no filme, o nome e o comportamento de alguns personagens foi modificado.

Existe um segundo filme, mas eu peço que o ignorem de tão ruim que é. O.O

BATTLE ROYALE é uma leitura tensa e cruel, pela forma como transforma o espírito jovem de cada aluno em uma versão dolorosa dos próprios traumas e imperfeições. É triste reparar em cada rosto dos 42 integrantes da turma B do nono ano, na foto abaixo, e imaginar que que a amizade pode ser facilmente substituída pela desconfiança e pela necessidade de matar para sobreviver. 🙁

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