Dia Mundial de Combate à Diabetes: Conquistando o Impossível pela Fé

Por: Luana Mattos

O Diabetes ainda não tem cura, por isso esse diagnóstico nunca será bem recebido, Leticia Socoloski tinha 19 anos quando descobriu a doença, as estatísticas não eram boas e a experiência de sua família com a doença trouxe um sentimento de revolta, “Por que eu?” ela se perguntou. No entanto, após ter sua vida completamente mudada pela doença ela percebeu que o diabetes poderia ser, na verdade, uma bênção disfarçada. Pois com ela surgiram oportunidades incríveis como sua viagem ao Nepal em 2013, junto com um grupo de diabéticos cuja a missão era escalar o Everest (a montanha mais alta do mundo).

Luana Mattos: Como você descobriu a doença? Apresentava algum sintoma?

Letícia Socoloski: Eu tinha 19 anos, foi no dia 12/08/2008. Infelizmente não apresentei [sintomas], fui fazer uns exames (primeiro porque era importante e minha mãe estava pedindo), mas principalmente eu tinha um peneirão feminino. Era um jogo importante no final de semana que vinha e me pediram vários exames, incluindo HGT e foi aí que descobri.

L.M: E quando você descobriu, qual foi sua reação?

L.S: Chorei (risos), a primeira coisa que perguntei quando fizeram insulina “o que é isso?” Então ganhei o apelido de chorona no hospital, mas isso porque tenho uma irmã que tem diabetes, mas ela teve aos 5 anos, hoje ela está com 37 aninhos, na época dela não tinha todos os cuidados, e por negligência dela, perdeu visão, fez hemodiálises, e hoje é transplantada, mas só fiquei sabendo que tudo isso ocorreu com ela por negligência após ter acontecido comigo, então ela me contou, antes disso eu pensava que todos que tinham diabetes acontecia isso, hoje sei que não, que é só manter os cuidados!

L.M: O que mudou na sua vida depois do diabetes, sua rotina, sua alimentação?

L.S: Bom, primeiramente fiquei mais próxima de Deus. Eu não comia nada de doce, não jantava e sempre me cuidei na alimentação, então passei a comer melhor, doces e em horários certos pelos motivos de hipoglicemias, me alimento bem melhor que antes, faço CHO que é uma contagem de carboidratos que existe hoje em dia, a quantidade carboidrato que ingerir define quanto de insulina irei aplicar. O que posso dizer é que o que realmente mudou foi as doses de insulinas e HGTS e faço muito mais treinos!

L.M: Você sempre praticou esportes, certo? Como isso te ajudou depois de saber do diagnóstico?

L.S: Desde menina, sempre fui estimulada a desenvolver uma atividade física como parte do quotidiano para meu desenvolvimento; inicialmente futebol, handebol, vôlei, algumas corridas, todos em campeonatos escolares e posteriormente boxe. Então fiquei revoltada quando descobri que tinha a doença, pois já sabia um pouco da doença, claro que só a parte ruim, tais como: Perda de visão, hemodiálise e transplante, pois tenho uma irmã que já passou por tudo isso. Mas quando eu resolvi aceitar, passei a buscar informações, foi onde eu conheci o ICD (Instituto da Criança com Diabetes), onde eu aprendi a me alimentar corretamente e fazer as aplicações, eu precisei entender a importância do tripé medicação + alimentação + exercício, então lembro como se fosse hoje a minha primeira consulta com o educador físico o Winston entrei na sala dele me apresentei e fui logo falando: “Quero continuar jogando bola e fazendo boxe.” Entrei para o grupo de corrida e a empolgação foi total, minha glicada era de 13, fui consultando meus médicos trocando medicação de 3 vezes ao dia com Insulina NPH para Insulina Lantus 1 vez ao dia e alguns meses depois já estava participando de minha primeira corrida 6.700 km na 5° Travessia Torres a Tramandaí (TTT).

Passei a planejar meus treinos com a equipe e meu educador físico, participei de mais duas provas, sendo uma delas corrida para vencer o diabetes, minha glicada já havia baixado para 10.6 e aos poucos deixei a corrida tomar conta e hoje com glicada de 6.1 nossa famosa A1C e sempre super bem controlada. A monitoração da glicemia capilar durante a atividade física é de fundamental importância para que possamos verificar as diferentes variações glicêmicas ligadas aos diferentes exercícios. Assim já observei que uma corrida longa com o ritmos mais lento reduz os níveis glicêmicos e corridas de distâncias mais curtas em velocidade mais elevada, aumenta a glicose de forma imediata, pois estão ligadas aos diferentes exercícios. Nestes casos a queda dos meus níveis glicêmicos ocorre a noite do dia da corrida. Essas observações só são possíveis com a auto-monitorização.

A corrida me trouxe só experiências boas, tais como me possibilitou um autoconhecimento da minha resposta glicêmica e tornando possível continuar correndo, e fazendo os esportes que gosto! Como sempre digo para aqueles que têm Diabetes: Comece pouco a pouco uma atividade física dando mais prazer a vida e corra para que a diabetes não dite as regras. Basta um calção, uma camiseta, um bom par de tênis e a vontade para começar sua corrida.

L.M: Além do bem estar físico e mental, qual é o objetivo das corridas que vocês fazem?

L.S: O grupo em que corro é Grupo de Corrida ICD. Objetivo é fazer com que a glicose diminua e com isso menos insulina precisamos, fazer com que os mitos sumam e fazer com que a prática acelere o metabolismo, levando à perda de peso, diminuindo o risco de doenças, reduzindo o stress e a ansiedade e ainda aumentar o bem estar físico, mental e social. A prática da atividade física é muito importante para ajudar a controlar o diabetes. Esse é o maior objetivo!

L.M: Como surgiu a oportunidade de viajar ao Nepal para escalar o monte Everest?

L.S: A oportunidade de participar da expedição faz parte de um projeto: “Diabéticos Sem Fronteiras”, liderado pelo alpinista Josu Feijo (o Espanhol Feijo, primeiro diabético a atingir o ponto mais alto do mundo), entrou em contato com o meu educador físico Winston Boff, conhecido como Tom, que é o Educador Físico do Instituto da Criança com Diabetes (ICD), no qual faço parte do grupo de corrida. A expedição foi patrocinada pela Telefônica e por suas subsidiárias brasileiras Telefônica Vivo e Axismed, empresa de gestão de pacientes crônicos no Brasil. Segundo o nosso preparador, ele pediu que fossem indicados atletas com diabetes tipo 1 e acostumados a um nível mais intenso de atividade física. Posteriormente, iniciou-se um processo de seleção. Levando em conta fatores como experiência com o exercício físico, idade e disponibilidade de tempo, nosso educador, concluiu que eu assim como os outros três atletas selecionados era uns dos mais adequados para subir o Everest. Passamos, assim, por uma sequência de exames e treinamentos de alta intensidade, que incluía subir e descer várias vezes a Avenida Coronel Lucas de Oliveira, em Porto Alegre.

L.M: Deve ter sido um desafio e tanto, não? O que te motivou a aceitá-lo?

L.S: Embora eu fosse acostumada com a prática de esportes, não deixava de pensar que seria um desafio. Devido à altitude de quase 6.000 metros e temperaturas que beiravam -20°C, e sabia também que a condição metabólica seria diferente. Com um sorriso no rosto eu brinco que foi uma doce aventura e já me sinto entusiasmada, pois pretendo retornar em 2017 (com meu esposo e minha filha que hoje tem apenas 1 ano), minha maior satisfação é servir como exemplo para outros pacientes.

Aceitei o desafio de subir o Monte Everest e provar que doença não impede de levar uma vida normal, podendo inclusive praticar esportes radicais e não aceitei o desafio somente por mim, mas por todos os outros diabéticos. Pretendo mudar aquele pensamento que existe de que, porque a pessoa foi diagnosticada com a doença não pode isso ou aquilo, é só se cuidar, ter uma alimentação saudável, um bom controle glicêmico, praticar esportes e cuidar da alimentação. No meu ponto de vista, Diabetes não é motivo para deixar de praticar exercícios físicos, até pelo contrário, com orientação correta, pessoas com a doença podem até correr ultra maratonas, é só querer. Como sempre digo, Diabetes é saúde! Fiz uma aventura fantástica! E foi o início de um novo esporte em minha vida. Nova paixão. Algo que desde o começo do trekking agradecia a Deus e amava, admirava tudo que via desde o início e descobri dentro de mim esse amor, esse novo esporte, pretendo subir até o topo do Everest. Certamente um grande aprendizado e demonstração de que tudo é possível desde que haja determinação, prazer, vontade, fé e, sobretudo, acreditar!

L.M: O que mais te impressionou no Nepal? Como foi essa experiência de conhecer esse povo tão rico em cultura?

L.S: Fiquei encantada com a cidade e cultura deles. O primeiro contato com a realidade de Kathmandu é intenso, ruas congestionadas de carros buzinando, cheiro de incenso, artesanatos valiosos, pessoas, animais, bicicletas e motos cruzando por todos os lados, templos e santuários milenares, ruas poeirentas e sujas, crianças sorridentes de uniforme escolar, pessoas usando mascaras para se proteger da poluição, algum policial tentando controlar o caos do transito. Essa cidade desperta todos os sentidos de um humano, com suas ruas repletas de cores, cheiros, sons, sabores e texturas.

Leticia - Nepal 4

Mas o que mais impressionou foi que mesmo com todos os problemas e a pobreza o povo é extremamente receptivo, sempre esbanjando felicidade, compartilhando o pouco que tem, e pela forte crença religiosa eles não vão te roubar para se beneficiarem e prejudicar ao próximo, eles esperam pelo que é deles. Sou apaixonada por animais e isso é algo que me chamou muita atenção, a convivência deles naturalmente com as pessoas, algo que admirei nos Nepaleses é que eles são extremamente ricos. Sim Lu, eles são RICOS!!! Ricos de verdade, ricos de vida, ricos de coração, ricos de felicidade, ricos de recepção, ricos naturalmente. Refiro-me ricos, pois é impressionante a forma como eles compartilham isso. Bah, é emocionante, é incrível!

Cada dia vivido em Katmandu parece que foi multiplicado, pois a bagagem de experiências se faz muito grande. O Nepal, e principalmente o Povo Sherpa são fantásticos. Fiquei super impressionada! Defino Katmandu: como um povo que é rico de verdade.

Curiosidades: Os medicamentos são muito caros? O governo fornece o medicamento necessário a vocês?
L.S: São caríssimos aqui no Brasil, mas dependendo do insumo (insulina que utiliza) tem como conseguir pelo SUS, mas, meus medicamentos são por um processo Jurídico que tem que renovar de 6 em 6 meses para poder ganhar medicamentos, caso falte o que geralmente ocorre, eu consigo pelo ICD pelo grupo de corrida que corro, tanto os medicamentos como fitas para medir o HGT.

Leticia - Nepal 2

Existem tipos de diabetes diferentes?

L.S: Há três tipos de diabetes: diabetes tipo 1, diabetes tipo 2 e diabetes gestacional.
Na real há várias, mas especificamente estes.

Diabetes tipo 1 – É também conhecido como diabetes insulino-dependente, diabetes infanto-juvenil e diabetes imuno-mediado. Neste tipo de diabetes a produção de insulina do pâncreas é insuficiente, pois suas células sofrem o que chamamos de destruição autoimune. Os portadores de diabetes tipo 1 necessitam injeções diárias de insulina para manterem a glicose no sangue em valores normais.
Há risco de vida se as doses de insulina não são dadas diariamente. O diabetes tipo 1 embora ocorra em qualquer idade é mais comum em crianças, adolescentes ou adultos jovens.

Diabetes tipo 2 – É também chamado de diabetes não insulino-dependente ou diabetes do adulto e corresponde a 90% dos casos de diabetes. Ocorre geralmente em pessoas obesas com mais de 40 anos de idade embora na atualidade se vê com maior frequência em jovens , em virtude de maus hábitos alimentares, sedentarismo e stress da vida urbana Neste tipo de diabetes encontra-se a presença de insulina porém sua ação é dificultada pela obesidade, o que é conhecido como resistência insulínica, uma das causas de HIPER GLICEMIA. Por ser pouco sintomático o diabetes na maioria das vezes permanece por muitos anos sem diagnóstico e sem tratamento o que favorece a ocorrência de suas complicações no coração e no cérebro!

Diabetes Gestacional – A presença de glicose elevada no sangue durante a gravidez é denominada de Diabetes Gestacional. Geralmente a glicose no sangue se normaliza após o parto. No entanto as mulheres que apresentam ou apresentaram diabetes gestacional, possuem maior risco de desenvolverem diabetes tipo 2 tardiamente, o mesmo ocorrendo com os filhos.

A entrevista foi originalmente publicada no site da nossa colaboradora e protagonista Luana Mattos. Para conferir a entrevista completa:

http://luanamattos.com/vencendo-o-impossivel-pela-fe-entrevista-com-leticia-socoloski/

ps_entrevista_diabtes_leticia_socoloski

Saiba mais informações sobre o Dia Mundial do Combate à Diabete:

http://www.diamundialdodiabetes.org.br

ps_dia_mundial_diabetes

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