“Honey Boy”: Roteiro de Shia LaBeouf baseado em suas memórias leva prêmio no Sundance Film Festival

Nossa semana começou com um post sobre “The Peanut Butter Falcon”, que conta com uma performance marcante de Shia LaBeouf, juntamente com Zack Gottsagen e Dakota Johnson.

E, para encerrar a semana com chave de ouro, vou compartilhar a minha experiência assistindo “Honey Boy”, filme escrito por Shia LaBeouf, baseado em suas memórias, desde a infância tempestuosa deste jovem ator, até os primeiros anos da vida adulta, acompanhando sua trajetória, enquanto ele se esforça para se reconciliar com seu pai e lidar com sua saúde mental. O filme estreou no Sundance Film Festival e eu tive o prazer de assistir em uma sessão privada, que contou com a presença de Shia, em LA.

Com direção da premiada cineasta Alma Har’el (Bombay Beach, LoveTrue), em “Honey Boy” conhecemos Otis (Noah Jupe) aos 12 anos de idade, quando ele começa a fazer sucesso como ator mirim de uma série, em Hollywood. James (Shia Labeouf), seu pai ausente, que trabalhava como palhaço de circo, retorna a sua vida para servir como seu guardião durante as gravações. Quando Otis não está no set, ele passa seus dias com seu pai em um motel na periferia da cidade, suportando seu abuso de autoridade. “Honey Boy” segue dois períodos de tempo na vida do personagem Otis, que adulto é interpretado por Lucas Hedges, observando o relacionamento complexo e abusivo de pai e filho e suas tentativas de consertá-lo ao longo de uma década.

O filme é extremamente emocionante, realista, e sincero. Foi escrito por Shia como parte do seu tratamento no centro de reabilitação, em 2017. O ator sofre de transtorno de estresse pós-traumático infantil e uma das suas atividades foi escrever as suas memórias, o que ele fez no formato de roteiro de filme. Isso ocorreu depois dele ter sido preso durante as filmagens de “The Peanut Butter Falcon”, quando assinou um acordo que ao terminar sua participação no filme, iria se internar e focar em sua recuperação, e assim o fez e assim nasceu “Honey Boy”.

Os personagens no filme são uma versão fictícia de Shia e de seu pai, mas ao interpreta-lo o ator não só fez uma das melhores performances da sua carreira, como viveu a sua catarse emocional.

Sem dúvidas , a amizade e cumplicidade entre Shia e a diretora Alma, contribuíram para que as palavras escritas por ele, ganhassem uma vida especial na telona. Sem contar com o talento de Noah e Lucas que também dão um show de interpretação na pele de Shia adolescente e adulto.

Mas, acho que a grande mensagem deste filme está na intenção da sua realização. Nas nas palavras da própria diretora, que também teve um pai alcoólatra e abusivo, “Honey Boy” é maior que a história do próprio Shia: “Espero que muitas crianças filhas de pais alcoólatras e crianças que sofrem abusos físicos e mentais, possam assistir a este filme. Porque nós dedicamos essa história para todos eles, que são nossos irmãos e irmãs.”

Shia LaBeouf me fez chorar em “The Peanut Butter Falcon”, no SXSW, em um sábado, na quinta-feira seguinte, eu estava novamente aos prantos assistindo “Honey Boy”, em outro evento, outro estado. Assistir a “Honey Boy” me fez pensar em quantas vezes as pessoas (eu inclusive) criticam as celebridades por terem saído da linha de alguma forma, sem terem noção de que a fama não faz uma pessoa menos humana, muito pelo contrário , ela coloca o ator em uma posição muito mais vulnerável, já que passa a ser julgado por gente que nem o conhece e não sabe o que se passou na sua trajetória.

Todos cometemos erros, uns mais sérios que outros, O importante é termos consciência que antes de atirar pedra na vida alheia, especialmente usando as redes sociais, devemos considerar que cada um tem uma bagagem que não conhecemos e por pior que sejam as atitudes de uma pessoa, melhor termos cuidado com a forma como nos comunicamos publicamente, especialmente quando não conhecemos o indivíduo.

Confesso que depois dessa overdose prazerosa de Shia LaBeuof, ele conquistou para sempre meu coração. Não pela sua carinha linda, não por seu talento indiscutível como ator (e agora sabemos também que é um roteirista nota 10), mas por não ter desistido e ter lutado contra os seus pesadelos e sua doença, publicamente, da forma mais transparente que alguém pode fazer, compartilhando suas dores e suas emoções, o que servirá de inspiração para muitos, pelo mundo a fora, que dividem com ele a mesma dor.

“Honey Boy” levou o prêmio especial de Projeto Visionário, concedido pelo Juri no Sundance Film Festival. Ao assistir o filme, sabemos que é mais que merecido. Que a carreira de Shia continue brilhante e, mais importante, que ele encontre a sua paz.

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