Oscar 2019: Cerimônia marcada pela diversidade não surpreende ao premiar “Green Book”

Eu assisto a cerimônia do Oscar desde que me entendo por gente e curto tanto o dia mais glamouroso da indústria do cinema quanto meu aniversário. Desde o Brasil, reúno os amigos neste dia, para uma celebração especial.

Ha mais de 20 anos, assisto todos os filmes indicados, na categoria melhor filme. E desde que comecei a trabalhar como jornalista de entretenimento e cobrir os festivais de cinema em LA e NY, passei a ter acesso à sessões privadas e cabines de imprensa dos concorrentes, e hoje em dia, praticamente assisto todos indicados, em todas as categorias, inclusive documentário curta e longa.

 

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A minha paixão pela sétima arte é tão grande que eu fiz um curso de roteiro na UCLA, quando me mudei para os EUA, em 2009. Assim, aprendi a não só enxergar os filmes pelo ponto de vista de uma fã, mas com um toque um pouco mais profissional. Tive a oportunidade de trabalhar na produção de alguns filmes independentes e meu coração pertence aos indies, mas também tem uma grande queda por filmes de grandes estúdios, quando eles são realmente bons. Às vezes o gênero, como fantasia, não é muito a minha praia, mas faço questão de apreciar o filme, como se aprecia uma obra de arte, ou seja, não é porque eu não curto a estória que não acho ela muitas vezes brilhante.

Não é segredo para ninguém que eu estava torcendo por “Roma”, o filme de Alfonso Cuarón, que levou o Oscar nas categorias melhor diretor, melhor direção de fotografia e melhor filme estrangeiro. Infelizmente, perdeu melhor filme para “Green Book”, um filme que eu até achei divertido, como os que vemos na “Sessão da Tarde” na tv, com excelentes atuações, melhor do que o filme em si, mas que eu nunca imaginei que fosse ser indicado para levar a estatueta na categoria mais importante da minha festa predileta.

O roteiro de “Green Book” chega a ser cafona. Baseado em uma história real, tinha até bastante potencial para ser um excelente filme, mas no final das contas, na minha opinião, é mais um filme sobre o homem branco, classe média, de New Jersey, que deixa de ser racista por conta da sua amizade com um bem-sucedido negro, gay. Quem escreveu e produziu o filme foi a família do homem branco, logicamente. E segundo a família de Don Shirley, o negro, a forma como a história foi contada foi bem diferente de como tudo aconteceu na realidade, mas claro, os roteiristas defendem seu filme e já que os dois homens já faleceram, nunca iremos saber de fato o que rolou.

 

 

Mas o problema do filme vai além do disse me disse, muitos membros da Academia assumiram que votaram em “Green Book”, pois seria o único que teria forcas para derrubar “Roma” e eles não queriam que a Netflix, um serviço de streaming, levasse o Oscar na categoria melhor filme para casa. No final das contas a votação foi mais política e comercial do que artística.

Mas, apesar de ter desligado a TV logo após Julia Roberts ter anunciado o nome do filme vencedor e ter caído na folia da festa que rolava solta aqui em casa, de uma forma geral, achei que a cerimônia sem apresentador foi bacana. Especialmente por ter dado a Regina King, seu mais que merecido Oscar pela sua atuação em “Se a Rua Beale Falasse”, que deveria ter sido indicado a melhor filme, mas pelo menos sua atriz foi devidamente reconhecida. Claro que um dos melhores momentos foi Gaga e Bradley Cooper cantando juntos “Shallow”, a música que deu à cantora a estatueta e a chance de fazer um discurso mais que inspirador. Valeu e eu chorei!

 

 

 

 

 

Da mesma forma que me emocionei quando Del Toro, o mentor, anunciou que seu pupilo Alfonso Cuarón tinha ganho como melhor diretor. Foi mágico. Curti muito Spike Lee ter sido reconhecido na categoria roteiro adaptado. Como mencionei, acho que Mahershala Ali é infinitamente melhor que o “Green Book”, mas eu estava torcendo para Richard Grant, na categoria ator coadjuvante, que está maravilhoso em “Poderia Me Perdoar?”. E na categoria melhor atriz, eu adoro a Olivia e ela está incrível em “A Favorita”, mas, sinceramente, queria que Glenn Close tivesse ganho. Indicada sete vezes, ela voltou novamente de mãos vazias pra casa. Espero que a Academia reconheça seu talento em breve. Já a categoria melhor ator, pra mim, daria Christian Bale se o Rami Malek não tivesse feito a campanha tão bem. Não curti sua atuação não, achei caricato, mas se “Green Book” levou o melhor filme, todo o resto é possível.

 

 

 

Para mim o final da festa na TV poderia ter sido mais feliz, mas valeu cada segundo pois o final da nossa festa aqui em casa foi inesquecível, “Roma” o primeiro filme mexicano a ganhar na categoria filme estrangeiro (com direito à apresentação falada em espanhol por Javier Barden), contando a história de uma empregada doméstica indígena. E assim a gente vai guardar na memória o Oscar 2019.

Veja a lista de premiados do Oscar 2019:

fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/oscar/2019/noticia/2019/02/24/oscar-2019-veja-os-ganhadores.ghtml

Melhor Filme
“Green Book: O guia”

“Bohemian Rhapsody”
“Infiltrado na Klan”
“A favorita”
“Pantera Negra”
“Roma”
“Nasce uma estrela”
“Vice”

Ator
Rami Malek (“Bohemian Rhapsody”)

Christian Bale (“Vice”)
Bradley Cooper (“Nasce Uma Estrela”)
Willem Dafoe (“No Portal da Eternidade”)
Viggo Mortensen (“Green Book”)

Atriz
Olivia Colman (“A Favorita”)

Lady Gaga (“Nasce Uma Estrela”)
Glenn Close (“A Esposa”)
Yalitza Aparicio (“Roma”)
Melissa McCarthy (“Poderia Me Perdoar?”)

Diretor
Alfonso Cuarón (“Roma”)

Spike Lee (“Infiltrado na Klan”)
Yorgos Lanthimos (“A Favorita”)
Adam McKay (“Vice”)
Pawel Pawlikowski (“Guerra fria”)

Atriz coadjuvante
Regina King – “Se a rua Beale falasse”

Amy Adams – “Vice”
Emma Stone – “A favorita”
Rachel Weisz – “A favorita”
Marina de Tavira – “Roma”

Trilha sonora original
“Pantera Negra”

“Se a rua Beale falasse”
“O retorno de Mary Poppins”
“Infiltrado na Klan”
“Ilha dos cachorros”

Ator coadjuvante
Mahershala Ali – “Green Book – O guia”

Adam Driver – “Infiltrado na Klan”
Richard E. Grant – “Poderia me perdoar?”
Sam Elliott – “Nasce uma estrela”
Sam Rockwell – “Vice”

Roteiro adaptado
“Infiltrado na Klan”

“A balada de Buster Scruggs”
“Poderia me perdoar?”
“Se a rua Beale falasse”
“Nasce uma estrela”

Roteiro original
“Green Book – O guia”

“A favorita”
“No coração da escuridão”
“Roma”
“Vice”

Edição
“Bohemian Rhapsody”

“Infiltrado na Klan”
“A favorita”
“Green Book – o guia”
“Vice”

Fotografia
“Roma”

“Guerra fria”
“A favorita”
“Never Look Away”
“Nasce uma estrela”

Filme de língua estrangeira
“Roma”

“Cafarnaum”
“Guerra fria”
“Never Look Away”
“Assunto de família”

Melhor animação
“Homem-Aranha no Aranhaverso”

“Os Incríveis 2”
“Ilha dos Cachorros”
“Mirai”
“WiFi Ralph – Quebrando a Internet”

Canção original
“Shallow”, “Nasce uma estrela”

“All The Stars”, “Pantera Negra”
“I’ll Fight”, “RBG”
“The Place Where Lost Things Go”, “O retorno de Mary Poppins”
“When A Cowboy Trades His Spurs for Wings”, “A balada de Buster Scruggs”

Figurino
“Pantera Negra”

“A balada de Buster Scruggs”
“A favorita”
“O retorno de Mary Poppins”
“Duas rainhas”

Curta-metragem
“Skin”

“Detainment”
“Fauve”
“Marguerite”
“Mother”

Edição de som
“Bohemian Rhapsody”

“Pantera Negra”
“O primeiro homem”
“Um lugar silencioso”
“Roma”

Mixagem de som
“Bohemian Rhapsody”

“Pantera Negra”
“O primeiro homem”
“Roma”
“Nasce uma estrela”

Curta de animação
“Bao”

“Animal Behavior”
“Late Afternoon”
“One Small Step”
“Weekends”

Direção de arte
“Pantera Negra”

“A favorita”
“O primeiro homem”
“O retorno de Mary Poppins”
“Roma”

Efeitos visuais
“O primeiro homem”

“Vingadores: Guerra infinita”
“Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível ”
“Ready Player One”
“Solo: Uma história Star Wars”

Maquiagem e penteado
“Vice”

“Duas rainhas”
“Border”

Documentário
“Free Solo”

“Hale County”
“Minding the Gap”
“Of Fathers and Sons”
“RBG”

Documentário curta-metragem
“Absorvendo o tabu”

“Black Sheep”
“End Game”
“Lifeboat”
“A Night at the Garden”

Um comentário sobre “Oscar 2019: Cerimônia marcada pela diversidade não surpreende ao premiar “Green Book”

  1. Não conhecia esse site. Que bela surpresa tive agora! Adorei a crítica – até porque concordo totalmente rs. Também saí frustrada com a vitória de Green Book. Antes disso, me pareceu injusta a ausência do belíssimo “Se a rua Beale falasse” . Até gostei de Rami Malek, mas nem de longe merecia o prêmio. A própria indicação de Bohemian Rapisody me pareceu absurda. Enfim, valeu por Regina King, Cuaron e Spike Lee.

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