Roteirista prova que não há limites para se reinventar

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Por: Claudia Ciuffo

Enquanto muita gente está se aposentando aos 80 anos de idade, Arnold Grossman, roteirista de séries que marcaram a história da televisão, como “Barco do Amor” e escritor com diversos livros publicados, resolveu celebrar suas 8 décadas de vida investindo numa nova carreira, e pela primeira vez dirigiu um longa metragem. “The Boat Builder”, que estreia hoje no Festival Internacional de Cinema em Ft. Lauderdale, Florida, é estrelado pelo consagrado ator Christopher Loyd (“De Volta Para O Futuro”) e foi produzido por Richard J. Bosner, que produziu também o premiado filme de Martin Scorsese “The Wannabe.”

Além de dirigir, Arnold também escreveu o roteiro de “The Boat Builder”. Filme que conta a história do viúvo Abner, interpretado por Christopher Lloyd, um velho e amargo marinheiro, que vive uma vida solitária. Abner é um homem mal-humorado e insociável que parece viver no passado, se distancia da família e não tem amigos na comunidade onde mora, só encontra conforto nas incontáveis horas gastas na construção de um veleiro em seu quintal. Isso até o dia que o jovem órfão Rick, interpretado por Tekola Cornetet, para escapar de um grupo de adolescentes que o perseguiam, se esconde em seu quintal. Abner e Rick descobrem que têm muitas coisas em comum e criam um improvável vínculo que muda suas vidas de maneira inesperada.

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Christopher Loyd

O filme é lindíssimo, tive o prazer não só de assistir, como de fazer uma entrevista exclusiva com Arnold Grossman. Ele conversou comigo sobre sua experiência como diretor, me contou como teve a ideia para escrever este roteiro, falou também do prazer em trabalhar com a lenda Christopher Loyd. Mais que tudo, Grossman que é uma simpatia me deu uma injeção de energia.

 

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Aos 80 anos de idade, tem planos e já trabalha em novos projetos para 2016, enquanto celebra sua nova e promissora carreira como diretor.

E se você tem alguma dúvida se deve ou não recomeçar ou começar ou se reinventar, confira o nosso bate papo com Arnold que certamente vai lhe ajudar a fazer a escolha certa e se preparar para aquele que pode ser o primeiro dia do resto da sua vida, independente do número que anos que carregue em sua jornada.

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Você sempre teve vontade de trabalhar como diretor de cinema ou foi uma decisão recente?

A: Desde os tempos que fiz faculdade de comunicação em NY, eu pensava nisso. Naquela época , eles estavam começando a colocar o curso de “diretor” no currículo, mas era diretor de teatro e não de cinema. E no fundo eu sabia que se trabalhasse na área eu queria me dedicar aos filmes e não necessariamente aos palcos. Neste meio tempo, fui acumulando experiências como escritor, desde o estágio que fiz numa assessoria de imprensa de espetáculos na Broadway, ate todos os comerciais, todos os trabalhos que tive envolviam a “escrita”, inclusive como roteirista de series de TV. Mas o diretor esta dentro de mim, demorou um pouco para dar o passo e dirigir um longa metragem, mas o dia finalmente chegou.

Você também escreveu o roteiro deste filme. Qual foi sua inspiração para contar esta estória?

A: É uma história criada a partir dos personagens. Eu comecei a escrever baseada em duas pessoas que conheci aqui em Denver (no estado do Colorado, onde Arnold mora). Primeiro conheci este senhor de idade que, apesar de todo mundo dizer para ele que já estava na hora de se aposentar, que seus anos dourados já tinham passado, ou seja, praticamente a sua vida ja tinha “acabado”, ele não concordava. Ele acreditava que ainda tinha muito mais pra viver, mesmo com a idade avançada. Ele não queria ir para um asilo e ficar la esperando a “partida”, mas queria aproveitar enquanto estava saudável e curtir a vida. E interessante que logo depois que eu conheci este idoso, eu conheci um menino de 10 anos de idade, que não tinha os pais, ele vivia de casa em casa, era uma criança solitária, rebelde, não muito feliz. E foi ai que eu pensei, e se a gente unir essas duas pessoas, este idoso e esta criança, como será a convivência deles, como eles poderão se ajudar? Será que eles vão se aceitar? E foi assim que o roteiro nasceu, neste caso os personagens que deram origem à história. Ai imaginei que seria interessante se eles construíssem alguma coisa com as mãos juntos. Como velejar e meu hobby favorito, faço isso há anos, desde a infância com meu pai e meu irmão eu passei muito tempo no mar e fui da Marinha também, então eu aproveitei para usar esta experiência pessoal e coloquei os personagens para construírem um barco juntos.

Não é fácil escalar um ator infantil que atue super bem. E o do seu filme é excelente. Como você conseguiu encontrá-lo?

A: Realmente não é fácil. Nos tínhamos um produtor de elenco no norte e outro no sul da Califórnia. Estávamos fazendo testes com vários atores e realmente não estávamos conseguindo encontrar a criança que atendesse as nossas expectativas para interpretar este personagem. Eu estava procurando um ator que tivesse alguma experiência, mas não muita, porque eu queria alguém que estivesse começando também. E foi quando eu liguei para uma agência aqui mesmo em Denver e comecei a procurar nos books de atores, quando vi a foto deste menino (o ator Tekola Cornetet) de “dreadlocks” e pensei, se este menino atuar com a atitude que ele aparenta nesta foto, nós achamos o nosso ator. E foi o que aconteceu.

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E como Christopher Loyd, um dos grandes atores de Hollywood, se envolveu no projeto?

A: Ele realmente é um ator incrível. Foi nosso competente produtor Richard Bosner que encaminhou o roteiro do filme para o Christopher, ele gostou e topou fazer. Na verdade, pelo que eu soube, e que já tinha um tempo que o Christopher estava recebendo roteiros que não interessavam a ele, felizmente quando ele leu este, ele achou bacana e nos deu a honra de fazer parte do nosso projeto atuando brilhantemente. E ele realmente tem um química excelente com o nosso jovem ator. Alias Christopher o ajudou muito e a mim também. Como um diretor estreante, eu precisava de ajuda, e ele estava la para contribuir tanto comigo como com a nossa jovem estrela. E tudo funcionou muito bem.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao dirigir um longa metragem pela primeira vez?

A: Existem vários desafios, mas o que facilitou e que eu tinha escrito o roteiro. Isso ajudou e muito. Inclusive a primeira vez que eu encontrei Christopher Loyd, eu dei a ele a opção de contratarmos um diretor mais experiente, se ele se sentisse mais confortável, já que eu estava começando, mas ele olhou pra mim e disse: “ eu assinei um contrato para trabalhar com você e estamos juntos nesta, alem disso quem melhor para dar vida a esta estória em frente as câmera do que a pessoa que a escreveu.”

Qual dica você daria para as pessoas que sonham em iniciar na carreira de diretor de cinema?

A: Olha, não sei se posso dar muitas dicas, porque eu confesso a você que mesmo agora, depois da experiência como diretor neste primeiro filme, eu ainda me sinto mais confiante em dirigir uma estória que eu escrevi, não uma estória escrita por outro roteirista. Mas se você esta começando e vai dirigir a estória de uma outra pessoa, tenha certeza que você tem um bom roteiro nas mãos. A parte técnica você pode aprender numa escola de cinema e importante mas você aprende, já uma boa estória e o que faz um bom filme. A estória e essencial.

Para finalizarmos, algum projeto especial na sua agenda de 2106?

A: Ah sim, estou trabalhando no roteiro baseado no meu livro “Going Together”. Aguarde que vem novidades em breve.

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