Transparent dá voz aos Transgêneros

Conheci Jill Soloway, criadora e diretora de “Transparent”, série vencedora do Golden Globes 2015, ano passado num evento sobre séries de TV promovido pela Film Independent Organization em LA.

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Ela estava acompanhada de feras, como diretores e produtores dos seriados “House of Cards” e “Scandal”. Mas a história de Jill me chamou muita atenção. Primeiro porque o show produzido por ela tinha sido comprado pela Amazon.com, que até então era apenas um site que vendia produtos de todos os tipos, novos e usados, e pela primeira vez iria exibir conteúdo de TV inédito. E mais ainda pela temática da série.

 

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“Transparent” conta a história de Maura, nascida Mort Pfefferman, sai do armário já na maturidade, e declara à família que é transgênero. O personagem também rendeu ao ator Jeffrey Tambor, o Golden Globes na categoria melhor ator de série, e marca uma nova era na TV nos EUA e no mundo.

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Os transgêneros nunca tinham sido retratados na TV e confesso que vibrei ao saber que a hora deles tinha chegado e que a fonte de inspiração de Jill foi seu próprio pai, que é também transgênero e saiu do armário. Aliás, como ela já declarou foi neste momento que Jill teve a ideia de fazer o show sobre o assunto. Nada mais real do que compartilhar a sua própria experiência e Jill Soloway fez isso com total maestria.

O elenco é brilhante, a história se passa em Los Angeles, e a maioria das locacões são lugares que frequento, mas por mais belos que eu já os achasse, depois de assistir os 10 episódios da série (cada um com cerca de 30 minutos de duração) confesso que cada cantinho da Cidade dos Anjos ganhou uma personalidade especial.

Não tenho amigos, nem familiares transgêneros, infelizmente não tenho histórias pessois para dividir, mas li bastante sobre o tema, o que me faz acreditar que a abordagem da série foi perfeita e sem dúvidas e emocionante.

Além disso, o foco é a família com suas dores e delícias, e neste aspecto posso afirmar que todos nós podemos nos identificar, os diálogos são pra lá de reais. Na verdade, a série é uma celebração ao ser humano, a liberdade de escolha, a igualdade de direitos, como trabalhar as diferenças e vencer os nossos próprios preconceitos. Poucas vezes vi na TV uma demonstração tão real da complexidade da vida em família. E como as diferenças e problemas são superados quando o amor é colocado acima de qualquer coisa.transparente1

Jill Solaway produziu séries como “Grey’s Anatomy” e “Six Feet Under”, mas foi ao contar sua própria história que, ela não só inspirou muitas famílias e celebrou a sua própria, como ganhou seu primeiro prêmio em Hollywood, que agradeceu com um discurso que arrancou lágrimas da plateia de celebridades presente no Golden Globes e de muitos espectadores pelo mundo afora, eu inclusive:

“Este prêmio é dedicado à memória de Leelah Alcorn* e muitas pessoas trans que morrem jovens. E também ao meu pai trans, MOPPA, você está assistindo em casa agora. Gostaria de lhe agradecer por ter saído do armário, porque fazendo isso, você se libertou, você disse a sua verdade, e me ensinou como falar minha própria verdade e fazer esta série. E espero que a gente ensine ao mundo alguma coisa sobre autenticidade, verdade e amor. Ao Amor.”

*nota: Leelah Alcorn foi uma jovem transgênero que se suicidou e deixou um bilhete dizendo que seus pais não a aceitaram e queriam que ela fizesse uma terapia para se converter.

Jeffrey Tambor também emocionou a todos dizendo em seu discurso e na coletiva de imprensa que este é o primeiro prêmio que ganha aos 70 anos de idade, dedicou e agradeceu ao transgêneros pela inspiração, paciência, coragem e por deixá-los fazer parte da mudança.

O sucesso absoluto de público e crítica desta série transparente e transformadora mostra que cada dia mais o entretenimento abre as portas para histórias pessoais, como a de Jill e seu Moppa, que felizmente saíram do armário do seu pequeno universo familiar para colaborar com uma comunidade que é parte de nossa sociedade e precisa ser apoiada.

Os criadores da também inovadora (e eternamente em nossos corações) série “Glee” fizeram o mesmo e dedicaram um episódio pra lá de emocionante aos transgêneros.

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Num mundo em que as pessoas tem tanto medo de não agradar e se preocupam tanto com o que os outros vão pensar delas, a função do entretenimento é mesmo mostrar que é possível ser feliz fora do armário e que você não precisa pertencer a lugar nenhum, a única coisa que importa é você ser quem você realmente é.

 

 

Hollywood é Aqui está na campanha por um mundo que, antes de criticar, as pessoas abram seus corações para entender de fato o que se passa com o outro ser humano. Por um mundo também que mais shows de televisão ganhem prêmios ao abordar um tema tão sério e celebrar uma comunidade tão batalhadora. E, claro, por um mundo onde transgêneros, heteros, gays, lésbicas, bissexuais sejam tratados com o respeito que merecem porque é no respeito ao próximo que está o glamour de viver dignamente.

Saiba mais sobre o assunto

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