“Vida”: Nova série traz temas como preconceito e sexualidade

Por: Claudia Ciuffo

Você provavelmente já assistiu várias séries e filmes que se passam em Los Angeles. Você pode ter até ter visitado ou morar na cidade faz tempo, mas, salvo raras exceções, ninguém vai ao leste de LA. A região é pra la de animada, e tem muita coisa legal pra ver la também, mas não é explorada pela indústria do entretenimento como deveria pois é o “subúrbio” latino da cidade.

Isso vai mudar agora com a estreia da série “Vida”, que se passa no local e conta a história da comunidade, que na verdade é uma história universal sobre duas irmãs que têm uma complicada relação entre elas e são obrigadas a voltar a conviver diariamente. A série fala também da galera que cresce no outro lado de Hollywood, fora do glamour, como eu cresci no subúrbio do Rio, e sobre complexas relações amorosas. “Vida” também aborda assuntos importantes como sexualidade e preconceito, problemas que todos nos passamos independente da nossa nacionalidade.

Criada, escrita e dirigida por um grupo fantástico de mulheres latinas, a série promete ser um sucesso e nós tivemos a honra de entrevistar com exclusividade a produtora e o elenco no festival South By Southwest, no Texas.

Ontem publicamos a entrevista com Tanya, a criadora, e com as protagonistas:

http://www.hollywoodeaqui.com/estrelas/serie-vida-aborda-a-cultura-latina-nos-estados-unidos/

Confiram hoje nosso papo com Karen Ser Anzoategui (Eddy), Maria Elena Laas (Cruz), Chelsea Rendon (Marisol) e Carlos Miranda (Jonnhy) que, além de talentosos, são pra lá de simpáticos e divertidos!

Entrevista – Karen Ser Anzoategui e Maria Elena Laas

SA: Eu vivo no lado nordeste de LA e estive fazendo muitos trabalhos de gentrificação na minha própria comunidade. Eu até fui para o Brasil para fazer um documentário jornalístico sobre gentrificação em 2014.

CC: Sério? Isso é legal!
SA: Sim. Eu tenho uma afinidade com os brasileiros… Eu sou da Argentina, mas eu cresci na América Latina. E tem também o time de futebol! Então, para mim, eu estava muito empolgada… Até mais, eu pensei: “Este é o show”. Mesmo que tenhamos um show no Hulu, este show está em um canal a cabo e pode ir mais longe. Nós podemos mostrar e explorar coisas. Nós não seremos censurados da mesma forma que um show no Hulu poderia ser censurado. Não sei no Hulu, mas um show pode ser censurado em um canal de tv, por exemplo. Então, essa é a primeira vez que um canal a cabo faz algo assim. E especialmente o lado leste, porque as pessoas vêm aqui e dizem: “Vamos para West Hollywood”.
MEL: Sim, todo mundo pensa em Beverly Hills ou Hollywood.
SA: E nós não existimos.

CC: Eu sei!

SA: Não realmente, mas você sabe o que eu quero dizer. A história do homem gay domina e isso vira o centro da conversa na maioria das vezes. Isso é para homens gays, o bar é para homens gays… Então, isso vai ajudar as pessoas a perceberem que esta não é a única parte da comunidade. Transgênero, não binário, o personagem que cruza os dois lados. Eu não sou centradamente feminina, mas esse é o personagem que eu represento. Estes são personagens reais, são personagens que… Historicamente, eu estive lá. Perseguidos pela polícia e eles ainda estão lá com seu legado. E eu acho que isso é muito importante para honrar, especialmente, as lésbicas masculinizadas e os não binários e transgêneros. Atualmente, isso está crescendo e crescendo… Como você sabe, o centro LGBT abriu um centro de serviços, então isso demonstra que existe uma necessidade. Isso é ótimo, finalmente nós temos mais que West Hollywood e a letra L.

CC: Finalmente, certo?
SA: Sabe, nós temos a Rose Troche, que trabalhou em “The L Word” e que dirigiu o episódio quatro.
MEL: Ela dirigiu dois episódios.

CC: Dirigiu dois episódios? Que legal!
SA: E especialmente porque, eu só posso imaginar… Nós estamos fazendo essas cenas… Às vezes, ter uma diretora como a Troche é essencial para representar o que estamos fazendo.

CC: É lindo, eu amei. Eu pensei que isso é um alívio, sabe o que quero dizer?
MEL: Você assistiu o primeiro episódio?

CC: Sim, só o primeiro episódio. E estou curiosa a respeito, porque eu sei que vocês já filmaram a primeira temporada inteira.
MEL: Exatamente.

CC: Então, neste tema, o que vocês podem nos dizer sobre a temporada e os personagens? O que podem nos dizer? Eu sei que não podem dizer muito, mas…
MEL: Certo, nós não podemos dizer muito. A minha personagem Cruz… Você não vai entender até o segundo episódio, mas tem algumas dicas lá e mais para frente você verá: a Cruz tem uma história com a Emma. Então, isso virá à tona e você descobrirá o que aconteceu, o que está acontecendo, e você verá mais da Cruz conforme a temporada passa. O personagem de Ser, você já compreende desde o começo qual é a posição dela…

CC: O que está acontecendo, porque é onde a história começa, certo?
SA: Sim, é empolgante. Eddy está lidando com a morte de Vida, a esposa, e ainda é muito leal a ela. Então, a vida dela e tudo o que ela faz é pela Vida.

CC: Estou empolgada! Vocês não estão me contando muito, mas eu entendo que vocês não podem! Parece empolgante.
MEL: Sabe que o negócio sobre este show é que tem tanta coisa acontecendo… Tenho certeza de que você pode ver isso até mesmo depois do primeiro episódio. Então, tem tantas histórias… Não somente a história da família quebrada, das tentativas e de todas as surpresas que são consequência de não se saber realmente quem são os membros da sua família – você pensa que os conhece, mas não conhece. Mas, além disso, ainda temos o fator LGBTQ, certo? Então, você também tem esses rapazes que são latinos e gays, o que é incrível e ainda não vimos na TV. Tipo, como assim? E daí você tem a gentrificação, que o show aborda pesadamente e é algo que está acontecendo ao redor do mundo. Tem tantas coisas embrulhadas em uma só e eu acho que isso aconteceu porque estamos tão ansiosos para contar nossas histórias e temos tanto a dizer que tudo foi de uma vez.

CC: E, novamente, você não vê isso na TV. Esta é uma conversa importante.
SA: Esses personagens são reais, complicados. Eles são pessoas que realmente têm que… Pessoas reais.
MEL: Exatamente.
SA: Então, meio que ajuda trazer a escuridão e a luz que estão dentro de cada um destes personagens, dentro da situação, através dos personagens. E o que também é importante, que eu gostaria de destacar, é que em respeito à cidade e à área que filmamos – o lado leste – a Tanya e os produtores respeitaram os ativistas locais e filmaram a maioria das cenas em um estúdio de som e em outra área, onde estariam distantes e não iriam contra os desejos deles. É, provavelmente, uma das primeiras produções a fazer isto.
MEL: Mas, ao mesmo tempo, eles são incluídos. Então, nós temos muito dos trabalhos de arte… Os murais foram feitos pelos artistas locais. Até com a música, nós trouxemos artistas locais. Também alguns dos figurantes e figurantes de destaque do show são ativistas locais, são crianças da comunidade.

CC: Ela pensou sobre tudo! Quero dizer, não só ela…
MEL: Ela pensou sobre tudo.

CC: Cada detalhe.
MEL: Não só com os escritores, com um time de escritores latino e a maioria de mulheres. Para direção, a mesma coisa: ou eles são latinos ou negros, o que traz representação atrás das cortinas. A equipe inteira, a mesma coisa. Então, ela realmente pensou em tudo.

CC: E até mesmo o designer de produção, tudo. Isso é incrível, porque nós não vemos muito.
SA: Quando você entra no set, é incrível porque a energia está no ar. Você pode sentir e fica pensando: “Uau!”.

CC: Eu sei.
MEL: E isso é o que esperamos que as pessoas vejam, não importa de onde elas sejam.
SA: Elas podem sentir.
MEL: Exatamente. Elas vão sentir, vão poder sentir tudo o que está por trás do show. A energia, porque tem muito trabalho duro…
SA: Sim. A comunidade latina não é a somente cantar, dançar e ser um estereótipo. Eu acho que o show vai realmente mostrar… Eu não entendo por que precisamos de tanta representação na televisão. Eu acho que nós vamos ver como isso afeta a audiência e as pessoas de Los Angeles – e tenho certeza que outras pessoas também – vão começar a ver e experimentar isso.
MEL: Mas também, com a mídia americana, vai ser a primeira vez… E é por isso que é tão importante: vai ser a primeira vez na televisão popular que você tem um elenco latino, que você tem uma história LGBTQ sob essa lente, que fala sobre gentrificação e identidade, e que tem tipos diferentes de sexualidade e nudez. Nós não vimos isso antes. Nós temos corpos diferentes, porque o americano tem uma certa ideia da beleza latina.
SA: Sim, que é muito binária e muito feminina.
MEL: Então, essa vai ser a primeira vez que você vê corpos diferentes. Finalmente!

CC: Finalmente! Quero dizer, por que não? Eu estou empolgada porque até mesmo os brasileiros… Quando falamos da comunidade latina, eles veem esse padrão porque é isso que eles veem nos filmes americanos.
SA: E as mulheres no Brasil também; é tudo muito sexualizado.

CC: Sim, nós temos o mesmo problema.
MEL: Exatamente.
SA: Eles vão pintar o mural de uma bunda saindo do… Sabe o que quero dizer?

CC: É ridículo, não é? Até mesmo eu posso dizer.
SA: Nós estamos demonstrando respeito e isso é importante de se mostrar. Nós temos nossos corpos e todo mundo pode ser diferente. Você não sabe, com não binários… Você precisa ter uma conversa com as pessoas ao invés de colocá-las em uma caixa. Esta é quem você é, eu não falei com você, mas você provavelmente é assim… E é isso que Eddy representa também. Eddy, que tem um look intimidante, representa cada uma das projeções que as pessoas têm, sabe? Então, as pessoas vão pensar todo tipo de coisa e, depois, você pode conhecer e entender que isso afeta as pessoas. E afeta as pessoas, porque você não diz “ah, talvez ele não seja assustador”. Talvez não seja assim. E eu posso me identificar com eles, porque as pessoas pensam isso e isso de mim. Então, isso vai abrir o coração das pessoas, trazer compaixão e empatia.

CC: Não é fácil mudar a mente das pessoas, mas esta é uma história… Nós precisamos de mais coisas assim.
SA: Precisamos de mais.
MEL: Definitivamente abre uma conversa e lembrem que ainda temos, na nossa própria comunidade… Nós ainda estamos batalhando contra um estilo de pensamento muito conservador e machista.

CC: Sim, o mesmo no Brasil. Muito mesmo.
MEL: Então, vai ser desafiante para eles ver isso representado na televisão. Mas graças a Deus, porque existem tantas de nós e já é tempo de termos a nossa vez, de conquistarmos o respeito, a empatia e a compaixão.

CC: É um começo.
MEL: É um começo!

CC: Nós temos um longo caminho a percorrer, certo? Ainda é um trabalho em progresso… Quando falamos em Hollywood sobre essas coisas, com estrelas de cinema, eles ficam tão empolgados. Ok, você pode falar a respeito, mas precisamos de ação!
MEL: Sim!

CC: Vocês têm muito dinheiro, produzam um desses shows.
MEL: Sim!
SA: Foi isso que a Frances McDormand disse no discurso dela, exatamente. É legal ouvir você dizer isso porque, quando dizemos inclusão, quer dizer que estamos falando de negras, lésbicas, mulheres e outras identidades também. Toda a questão do gênero está começando a ser incluída na conversa. Mas temos que incluir nas cerimônias de premiações, temos que incluir quando falamos uns com os outros, ainda é muito… Você simplesmente tem que saber qual é o gênero de uma pessoa quando a está descrevendo, você tem que saber a raça dela. Por que o leitor, o telespectador precisa saber? Por que tem que ser assim, quando você está lendo, você precisa que isso entre na sua cabeça? E aí você já está contaminado.

CC: Sim, quem se importa?
SA: Quem se importa? Se uma pessoa está sentada, lendo isso, lendo histórias assim, então…

CC: Essa conversa está tão legal! Eu não quero terminar.
SA: Obrigada!

CC: Você disse em português. Você consegue entender alguma coisa?
SA: Não. Eu quero aprender, mas é muito difícil.

CC: É muito difícil, não é? É muito diferente do espanhol.
SA: Muito diferente!

CC: As pessoas dizem: “Você fala português, então você sabe falar espanhol”. Não, sem chance!
SA: Como vai?

CC: Legal, está conseguindo! Eu fiquei tão feliz em saber que você foi para o Brasil, que você esteve lá trabalhando neste projeto porque nós precisamos de mais ajuda lá.
SA: Muito obrigada.

CC: A comunidade LGBTQ tem passado por muita violência. É o primeiro país no mundo em número de pessoas LGBTQ que são assassinadas.
SA: Essa é outra razão pela qual esse show é tão importante.

CC: Eu não fico feliz em dizer isso, eu fico envergonhada, mas é por isso que é importante.
SA: Eu preciso divulgar isso.
MEL: É tão importante.

CC: É muito importante. Volte, vamos juntas! E aí vamos festejar também!
SA: Sim, vamos fazer isso! No Rio ou na Bahia?

CC: Eu sou do Rio.
SA: Sério?

CC: E eu nasci na Bahia. Eu nasci em Salvador e cresci no Rio. Meus pais ainda vivem lá.
MEL: Eu amo o Rio. Eu fiquei no Copacabana Hotel e amei, é lindo lá.

CC: Muito obrigada. Eu não posso ficar mais, me desculpem… Vocês são tão legais!

Entrevista – Chelsea Rendon e Carlos Miranda

CC: Que momento empolgante!
CM: Muito empolgante!

CC: É a sua primeira vez aqui?
CR: Sim, primeira vez no SXSW.
CM: É o meu primeiro rodeio!

CC: A minha também, estou empolgada por estar aqui. Eu sou do Brasil e vivo em LA e New York – primordialmente Nova York – mas sou do Brasil.
CM: Brasil? Ok, ok.

CC: O que eu gostei mais quando vi o primeiro look e o trailer do show é que ninguém nunca fala sobre o leste de LA.
CM: Certo.
CR: Sim, ninguém fala sobre o lado leste.

CC: Eu vivi em LA por muito tempo e eu estive no lado leste diversas vezes… O quão empolgante é para vocês trazer algo novo para a televisão?
CM: Quando você vem de algum lugar… Eu não acho que todo mundo no lado leste de LA está dizendo: “Isto não é LA, isto não é LA”. É só um personagem também. Então, é lindo poder contar uma história dentro daquela comunidade.
CR: Eu sou realmente daquela área, eu cresci lá.

CC: Você cresceu lá?
CR: Sim, a minha mãe cresceu lá também. Então, é ótimo poder contar uma história que é tão próxima de mim e da minha vida. E especialmente da minha mãe.

CC: Mas eu acho que vai ser incrível mostrar para pessoas de todas as partes do mundo, incluindo o Brasil. As pessoas no Brasil, elas não têm…
CM: Elas não têm ideia.

CC: Irrita um pouco, porque tem tanta coisa boa lá.

CR: Mas eu acho que a história é tanto sobre família que todo mundo pode se identificar com ela.
CM: É muito universal, sim.
CR: O aspecto da vizinhança em processo constante de mudança é tão universal, está acontecendo em tantos lugares. Então, eu acho que muito é universal e que todo mundo poderá entender.
CM: E eu acho que é como você disse: muitas pessoas não conhecem esta cultura, sabe? O mundo tem um tipo de ideia única…

CC: Eu sei!
CR: Os estereótipos! A empregada, os “cholos” e outros tipos.
CM: Exatamente. E não é assim, não é originalmente assim.

CC: Eu acho que vocês quebram isso, sabe?
CR: Sim, nós estamos tentando quebrar essas portas.
CM: Sim, apresentar todo mundo para… Existe mais do que eles sabem.
CR: Exatamente. Os personagens no show são somente pessoas que vivem em lugares diferentes e é meio que, tipo… Irmãs que não se dão bem, sabe o que quero dizer? Todo mundo pode se identificar com isso.
CM: Sim, sim. Triângulos amorosos.
CR: Uma irmã que acha o irmão irritante! O irmão sabe como deixá-la irritada.
CM: Ou vice-versa!

CC: Eu tenho um irmão, então eu sei! Mas conte-me mais sobre os seus personagens. O que vocês podem nos contar?
CR: A minha personagem, Mari, têm muitas camadas e isso é algo que eu amo sobre ela. Eu acho que ela coloca uma máscara de força, mas, por baixo, ela é humana e sente. Mas é isso que eu amo sobre interpretar a personagem: ela é multicamadas. E por ser uma ativista, ser defensora de seu bairro, é tão viva, sabe o que quero dizer? E é ótimo interpretar uma personagem forte e durona, mas que ainda é vulnerável. Porque, muitas vezes, você vê uma pessoa durona e ela só é durona, ou você vê esse tipo de vítima e só a vê como vítima. Então, eu acho que é ótimo interpretar uma personagem como a Mari.
CM: Sim. Ela é jovem e está ciente do que está acontecendo, sabe? É legal ver. Eu acho que ela representa o que a comunidade sente. Sabe? Este é o nosso bairro e ela…

CC: Ela luta por ele.
CM: Exatamente. Mas o Johnny…
CR: O Johnny é um idiota! (Risos)
CM: É o que a irmã diz! O Johnny é o herói local. Ele é o cara do bairro, que trabalha na loja do pai e cuida dos negócios… Mas ele tem uma queda pela Lyn, então, as coisas ficam um pouco…

CC: Foi o que eu ouvi!
CM: Mas, no final, o Johnny é só um cara muito legal. Ele é alguém com quem você pode contar.
CR: Eu não sei se, como irmã, ela pode contar com ele. Ele dá algumas mancadas.
CM: É cedo ainda, sabe? Nossa história pode mudar depois.
CR: Espero que sim!

CC: Vocês já filmaram tudo?
CR: Nós já filmamos a primeira temporada inteira.
CM: Sim.
CR: Nós conhecemos ele pela primeira temporada.

CC: Agora, eu quero saber mais!
CM: Está brincando? Eu quero saber mais!
CR: Eu sei! Eles não nos deixaram ver nada!

CC: Vocês não viram nada?
CR: A première, amanhã, é quando todos nós veremos pela primeira vez.

CC: É para todos vocês? Todos nós?
CM: Você sabe tanto quanto eu sei!

CC: Uau, que legal. E como vocês acharam estes papéis? O papel achou vocês?

CR: Na verdade, eu tenho uma pequena história interessante.
CM: Você tem? Eu tenho também!
CR: Eu tenho amigas que estavam fazendo testes para os papéis de Emma e Lyn. Então, eu estava ajudando uma amiga e, aí, outra amiga me disse… A minha amiga Santana falou comigo e ela conhece a Tanya. “Você precisa fazer o teste para este papel, esta é você!”. Então, eu mandei para os meus representantes e disse que a minha amiga me contou sobre o papel, perguntei o que eles sabiam a respeito. No papel que a minha amiga não me mandou, mas que o meu agente me mandou, dizia que nudez total seria necessária e meus representantes sabem que eu não estou confortável com isso. Eles me disseram: “Nós íamos te contar, mas o papel diz isso… Então, se você quer fazer o teste, você pode”. E eu disse: “Vamos ver o que vai acontecer”. Eu enviei uma fita, eu acabei continuando, continuando e ganhei o papel e, nesta temporada, eu não tive que ficar nua!
CM: Continuando, continuando, continuou!

CC: Você continuou?
CR: Nesta temporada, eu não fico nua.

CC: Eu ia perguntar como foi isso!
CR: Para mim, foi tão surreal. Eu lembro que levei minha amiga Santana para jantar e agradecer. Talvez, se não fosse por ela me avisar, eu não estaria aqui.

CC: Isso é tão legal.
CM: Você poderia ter perdido a oportunidade, com certeza.
CR: Só porque eu não gosto de nudez… Droga! Mas eu estou aberta para isso agora, os meus representantes sabem.

CC: Mas é interessante, acho que faz sentido às vezes, dependendo do personagem.
CR: Todo mundo pensa diferente. Sim, dependendo do personagem, como é apresentado…
CM: E a história, se vai mover a história para frente.
CR: Eu não sei por que, mas, toda vez que eu penso em nudez, eu imagino os meus filhos na escola e um menino dizendo: “Eu vi os peitos da sua mãe”. Isso é o que sempre vem à minha mente! Então, eu espero que, em algum ponto, eu supere. Porque se é bonito… Uma das coisas que eu amo sobre esse show é que o jeito que eles fazem é tão bonito.
CM: Sim, é clássico.
CR: E é para a história, não é como eles fazem em filmes aleatórios… Tipo, você vê uma garota andando nua por nenhuma razão, sabe? É mais do que isso. É por isso que, para esse show, eu pensei que posso considerar.
CM: Eu fui mais do tipo: “Eu cruzarei essa ponte quando chegar lá”. Eu vou fazer o teste e nós veremos o que vai acontecer. Mas, para mim, eu estava em Chicago gravando umas cenas em Chicago P.D. Eu fico tão feliz só de estar lá fora, trabalhando. E o meu agente me mandou um teste, me falou para enviar uma fita… Ele disse: “Eu não sei se você tem tempo, mas, se você tiver, aqui estão alguns lugares em que você pode ir para gravar seu teste”. E, realmente, eu estava querendo explorar Chicago, eu não queria fazer isso.

CC: É uma cidade tão bonita, certo?
CM: E eu tinha um passe de um dia que ia vencer aquele dia… Mas, na minha cabeça, eu pensei: “Vou fazer. Deixa só eu fazer a fita…”.

CC: Você nunca sabe, não é?
CM: Você nunca sabe e eu não quero ser como…

CC: Não vamos perder a oportunidade.
CM: Exatamente. Vou apreciar isso, pelo menos eu tenho um teste. E a próxima coisa que eu sei é que eu volto para São Francisco… Quer dizer, para LA, e recebo uma chamada para um segundo teste. Foi uma semana inteira de testes.

CC: Então, você quase…?
CM: Sim, eu quase não fiz! Mas eu pensava que tinha outra pessoa interessada no papel e foram um monte de…
CR: Sim. Teve um teste de tela que fizemos, com ele e outra pessoa.
CM: Sim. Tem um monte de detalhes que eu estou resumindo, mas foi desde quase não fazer o teste até estar sentado aqui, falando com você.

CC: Que insano! Vocês têm boas histórias a respeito. Usualmente, as pessoas só falam “Alguém me ligou…”.
CR: E isso é uma das coisas excelentes sobre esse show: ninguém faz parte da lista A que todo mundo conhece.
CM: Somos rostos novos.
CR: Não foi do tipo: “Nós vamos te oferecer este papel”. Nós todos passamos pelo processo de audição que sempre fazemos para papéis e coisas assim… Como ele disse, somos rostos novos. Todos estão atuando há alguns anos, eu atuo há quase 20 anos agora. Mas é uma daquelas coisas em que todos nos unimos e nos entendemos, e é como uma família. Nós vamos crescer juntos, sabe?

CC: Isso é legal. Porque é um show interessante, falando sobre coisas legais e um lugar legal. É novo. Rostos novos, nós precisamos disso.
CR: Sim. Especialmente latinos.
CM: Deixe-me dizer na gravação: parabéns à Starz e à Tanya por arranjarem alguns rostos novos!

CC: Nós precisamos de mais! Eu não devia ter dito isso…
CR: Não, é definitivamente verdade. Nós sempre vemos o mesmo tipo de pessoa representando o mesmo tipo de papel e, às vezes, precisa ser um pouco diferente. Sabe, não para tirar algo das pessoas que estão conseguindo os papéis, mas é sempre bom ver um show como este, que é bem representado.
CM: Para mudar um pouco!
CR: Você também tem o time de escritores, que é todo latino.
CM: Os escritores são incríveis.

CC: Sério?
CR: A Tanya sendo uma mulher poderosa. Mas o time de escritores é latino também.
CM: E primordialmente composto de mulheres.

CC: Isso é ótimo! Eu estava prestes a perguntar a vocês o que está acontecendo em Hollywood agora, que todo mundo está falando…
CR: Eu não sei sobre Hollywood ainda. Nós não estamos 100% lá… Eu acho que estamos dando bons passos e eu acho que este show é um ótimo passo na direção certa.
CM: Certo. Concordo.
CR: Porque, novamente, se você pensar a respeito… Além de diretores, latinos não eram nomeados para o Oscar. Para música, eu acho que havia. Mas, para o Oscar… Então, eu acho que isso é, definitivamente… Nós temos que ir para a direção certa e eu acho que, com a vitória de Viva – a Vida é uma Festa… Aquilo foi tão grande!
CM: Aquele foi um grande dia para o México no Oscar, com certeza.

CC: Com o Del Toro e…
CR: Sim, exatamente.

CC: Diretores latinos têm conquistado todos os Oscars nos últimos anos.
CR: Eu acho que foram os últimos três anos com diretores latinos.

CC: Três ou quatro anos…
CR: Sim, porque foi o Alejandro, foi o Guillermo…

CC: E o Alfonso.
CR: Sim.

CC: Ele ganhou por Gravidade.
CR: Sim! Mas eu acho que esse é um passo na direção certa e é por isso que estou esperançosa que a gente consiga um barulho bacana e consiga que as pessoas assistam ao show, para que outras redes e outras… Como se fala?

CC: Plataformas?
CR: Estúdios! Que eles vejam que temos esse pequeno show, todo com mexicanos e que não são todos estereótipos. Poderia funcionar, sabe?


CC: E será bom para os escritores e para os atores também, para todo mundo.

CM: Sim, sim.
CR: O fato de que latinos escreveram uma história sobre latinos é o que faz ser tão real. Porque, muitas das vezes em que você vê um filme sobre latinos, ele não é escrito por latinos e eles nunca acertam.

CC: Eu sei, porque eles não… Você cresceu lá, você estudou isso a vida toda.
CR: Sim.

CC: Isso é legal, porque você sabe do que está falando. Não sou eu, do Brasil, interpretando uma latina… Sabe o que quero dizer? É diferente.
CR: Sim.

CC: Não é nem sobre o sotaque, é sobre a atitude.
CM: Exatamente, você está certa. Mas quer saber? Nem todo mundo tem um sotaque.
CR: Eu aprendi espanhol primordialmente no colegial. Eu não falava realmente quando era criança. Eu só falei quando era criança em ocasiões em que tive trabalhos, filmes ou comerciais, que eram em espanhol. Mas, exceto isso, eu não cresci falando espanhol. Então, quando pessoas me falam para colocar um sotaque mais forte, eu peço para o meu pai falar um pouco! Porque o meu pai tem sotaque. O meu pai veio para cá, eu sou de primeira geração pelo meu pai e de segunda geração pela minha mãe. Então, eu digo que sou uma e meia! Mas eu cresci em volta da família da minha mãe, assim eu sou mais de segunda geração.

CC: Mas é difícil, claro.
CR: Sim.

CC: Isso é tão legal, eu estou tão feliz por este show. Quando eles me convidaram para vir aqui… Até mesmo porque eu quero que os brasileiros saibam mais sobre a comunidade mexicana e a comunidade latina nos Estados Unidos, porque eles não sabem.
CM: Sim, sim. Quero dizer, a ideia é que são os “cholos”, mas não é. E eu espero que tenhamos uma chance de continuar a fazer esse show, porque temos tão mais para contar. Nós só começamos a riscar a superfície…
CR: É isso mesmo. Diga ao seu público para assistir, assistir e assistir! Compartilhem com a família e amigos.

CC: Eu vou dar o meu melhor para ajudar.
CM: Muito obrigado. Foi muito legal te conhecer.
CR: Foi um prazer conhecê-la.

CC: Vocês também, foi um prazer conhecê-los. Divirtam-se aqui!

Trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=Z0Ic766yWFE&list=PLYg6DkgTt8JB-yHpBDi2VWjopc5tv2fDD&index=2

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