É tempo de celebrar: 11 anos de jornada nos EUA

Hoje comemoro 11 anos de jornada nos EUA.

Fiquei pensando no que a Claudia de hoje falaria para a Claudia que chegou aqui cheia de sonhos há mais de 1 década.

Me peguei comparando essas duas fotos, a primeira tirada logo que cheguei em Los Angeles, do alto do Griffith Park e a segunda que tirei recentemente no Brooklyn, NY, onde moro atualmente.

A Claudia que chegou nos EUA tinha uma gorda poupança. O Brasil estava vivendo o seu auge e 1 dólar custava a bagatela de R$ 1,50. Com essa facilidade pude aproveitar o glamour de LA, na minha vida pessoal. Dancei com celebridades, desfilei no tapete vermelho do Emmy, tomei champanhe nos restaurantes mais badalados da cidade, tive tempo de ler muitos livros, ver inúmeros filmes e maratonar todas as séries que sempre desejei. Criei o Hollywood é Aqui que abriu um mundo de possibilidades, igualmente glamourosas na minha vida profissional. Entrevistei meus ídolos, cobri eventos, me formei em jornalismo, escrevi pra Capricho, viajei e explorei todos os cantos que desejei nos EUA. Fui a festas badaladíssimas e dei festas memoráveis. Fiz amigos de razões, estações e outros pra a vida inteira.

Chorei de saudades, sofri de ansiedade, tive dúvidas, mas na solitude da vida na terra estrangeira passei a me conhecer melhor. Senti dor e um tipo de felicidade que não tinha experimentado antes. Conheci o lado mais generoso e mais egoísta das pessoas ao meu redor e também vi no reflexo do meu espelho o meu melhor e o meu pior.

A Claudia que chegou aqui cheia de sonhos amadureceu realizada. E, quando, anos depois, as economias acabaram  (o dólar explodiu e a crise econômica tomou conta do Brasil), sua principal fonte de renda, ela saiu de Beverly Hills, mudou pra Austin, dirigiu uber, entregou comida, saiu de fato da zona de conforto, mergulhada no interior dos EUA, aprendeu a viver com menos luxo, e com os dois pés no chão.

E quando a vida simples começava a entrar nos eixos, a notícia que mamãe tinha sido diagnosticada com um tumor no cérebro mudou a rotina como se tivesse passado um furacão. Uma viagem às pressas ao Brasil trouxe de presente um Carnaval que eu não curtia há mais de 10 anos. Mamãe se recuperou bem e voltei tranquila para a capital do Texas até ser supreendida com a notícia de uma pandemia, que mudaria o mundo pra sempre. Com medo de ficar longe dos meus durante o apocalipse, a solução foi arrumar as malas novamente e partir para a Cidade Maravilhosa. Sem baladas, no meu antigo quarto, viciei no Big Brother Brasil 20, ironicamente no mesmo lugar onde assisti o BBB 1, recém-chegada de Houston, Texas, 18 anos antes. Aproveitei para colocar mais de 10 anos de papo em dia com os meus pais e lavar as roupas sujas nas reuniões de família.

Enquanto acompanhava a luta da mamãe, guerreira, contra o câncer, praticando o isolamento social, um emprego, fruto de uma entrevista feita há 2 anos, cai de paraquedas no Alfa Barra. A empresa britânica com filial em Nova York, me deu a chance de reencontrar o meu primeiro grande amor nos EUA. Morar na cidade pela qual me apaixonei ao assistir ao filme “Uma Secretaria de Futuro”, no final dos anos 80, nesse momento da minha vida, não é só a realização de um sonho adolescente, mas a prova que a trajetória, cheia de altos e baixos, repleta de conquistas, desafios e dificuldades, valeu a pena.

 

Escrevo esse texto agora, enquanto admiro a bela vista do apartamento que resido momentaneamente no Brooklyn. Ao longo de todos esses anos fui abençoada com moradas que me serviram de camarote para apreciar o espetáculo do astro rei, que mesmo nos dias nublados, às vezes atrás das nuvens, sempre brilhou me alimentando com sua energia inigualável.

A Claudia de hoje, mais madura, menos deslumbrada, diz para a Claudia ingênua, que chegou em Hollywood há 11 anos, que tudo valeu a pena, as escolhas, mesmo as erradas, acabaram trazendo boas consequências. Não planejar nada, e colecionar dívidas ao invés de economias, ajudou a construir uma poupança emocional, repleta de momentos inesquecíveis, que foi fundamental para sobreviver a pandemia. Seguir a vida, curtindo a jornada não o destino, trouxe a certeza de ter curtido tudo que devia, especialmente com a mamãe, mesmo morando longe. E hoje esse é o maior consolo ao estar distante dela, no momento que segue com sua batalha.

No final das contas, a Claudia de hoje não existiria sem a determinação e a impulsividade da Claudia que há 11 anos decidiu se reinventar na Terra do Tio Sam. Não foi sempre fácil, mas foi fascinante. Para realizar os sonhos, sempre pagamos um preço, e o meu, sinceramente, foi até bem generoso.

E assim, sigo confiante na direção dos meus sonhos para continuar construindo a vida que imaginei.

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