A pergunta que não quer calar? Viver em NY ou LA?

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Entendo perfeitamente quando uma pessoa nascida e criada em Nova York, ou mesmo alguém de qualquer outra nacionalidade que mora na cidade desde jovem, me diz que conheceu ou morou em Los Angeles mas não conseguiu se adaptar.

Los Angeles tem muitas vantagens, dentre elas o melhor clima dos EUA (e também um dos melhores do mundo), o que já eleva a qualidade de vida. Apesar de territorialmente ser maior que a Grande São Paulo, o ritmo de vida em LA é bem menos acelerado, particularmente para aqueles que vivem na Zona Oeste, que é o lado onde estão os bairros classe média e alta da cidade e o mar. Não se pode construir prédios de mais de 6 andares (salvo em regiões específicas, autorizadas pela prefeitura, como o centro da cidade). O custo de vida é bem mais baixo que em NY. Em LA você mora melhor e mais barato. A vida noturna é agitada, muitos bares, boates, ótimos restaurantes e vários programas culturais gratuitos. E se você, como eu, é viciado em cinema, TV, música e famosos, LA vai lhe oferecer as melhores (e mais baratas) oportunidades da sua vida para encontrar seus ídolos. Seja na rua, no cinema, num bate-papo depois do filme que eles protagonizaram, ou numa sessão de autógrafos na livraria, você vai ver muita gente famosa. E se seu sonho é trabalhar nesta área, Los Angeles também é o seu destino, afinal de contas Hollywood é Aqui, na capital mundial do entretenimento.

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Mas então por que um nova iorquino (de fato ou de alma), mesmo trabalhando com televisão e filmes, muitas vezes preferem investir em outras áreas na sua carreira ou batalhar um trabalho nas empresas que tem filial em NY, debaixo de neve, frio e chuva a viver na Cidade dos Anjos?

Até muito pouco tempo atrás, eu não entendia direito as razões dos nova iorquinos. Hoje que tenho a oportunidade de viver também em NY, eu finalmente compreendi as diferenças da “Selva de Pedra”, como muitos chamam NY e da “Cidade de Papel”, como alguns se referem à Los Angeles.

A questão é a cultura dessas cidades influenciada pela geografia e, especialmente, pela sua principal fonte de renda. NY é uma cidade prática, comercial, o dinheiro vem do mercado financeiro, e não é fácil ganhá-lo, tem que trabalhar mesmo, correr atrás das oportunidades. Os prédios são enormes e ao caminhar pelas ruas, você olha pro alto e vê aqueles arranha-céus gigantescos e pensa, sou apenas mais um nesta multidão. E é mesmo. Seja você o presidente de uma instituição financeira ou o garçon de um boteco no Harlem, todos estão vulneráveis em NY e à mercê do seu, muitas vezes, super longo inverno, assim como de um calorento verão. O dia a dia é corrido, barulhento, você vê o lixo nas ruas, os ratos circularem, você é impulsionado por uma vibração constante por estar sempre cercado de gente. Esbarra nas pessoas na rua e mesmo quando caminha sozinho você se vê no meio de uma multidão de gente do mundo inteiro, você vai ouvir diferentes sotaques, conviver com inúmeras culturas, andar um quarteirão e sentir o cheiro de comida brasileira, grega, turca, de cachorro-quente e sushi.

Em NY, você vive uma realidade semelhante (não é igual) das cidades grandes brasileiras, como Rio e São Paulo. E, independente da sua conta bancária e do seu status social, quem manda na Ilha é a própria Ilha. E como já dizia a música, se você for bem-sucedido em NY, é provável que consiga se dar bem em qualquer outro lugar do mundo.

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Um rosto belo abre portas em qualquer lugar, e não e diferente em NY, mas não adianta ter só uma carinha bonita e um papo superficial, você tem que arregaçar as mangas e ir à luta. E aí está a maior diferença de NY e LA, a superficialidade em todas as relações. Los Angeles, como qualquer cidade onde predomina o entretenimento, é regida pela vaidade (o Rio de Janeiro também é assim). A sua aparência vai determinar até se você entra ou não num restaurante da moda. O clima favorável e a geografia da cidade, que é espaçosa, contribuem para que as pessoas tenham o ego mais inflado, elas têm mais espaço físico para isso. Sem contar com o fato que ninguém anda na rua, estar sempre isolado em seu automóvel faz muita gente acreditar que tem mais poder do que de fato tem. Isso traz como consequência as conversas mais superficiais e um certo isolamento, é interessante mas muitos moradores da cidade só frequentam a região onde residem criando suas próprias bolhas.

Não me entendam mal, eu adoro Los Angeles. Sou apaixonada pela cidade. Mas sou gato escaldado. Vim do Rio, já mais velha e experiente. Trabalhei na Globo anos e foi uma escola e tanto no quesito lidar com pessoas vaidosas e superficiais. Me adaptei rapidamente em LA e ao contrário de muita gente eu rodo a cidade de ponta a cabeça até para tomar um chope, nunca me tranquei em Beverly Hills/ West Hollywood onde moro. Sou uma Valley Girl (frequento muito os bairros do subúrbio, que são a versão “Angelena” da Tijuca, onde cresci no RJ).

Sem contar que LA foi tudo que eu precisava quando decidi sair do Brasil há quase 7 anos. Eu queria dar uma desacelerada das noitadas e farras, queria ter uma vida mais calma, sair menos, dormir antes do dia clarear, e, claro, conhecer os bastidores do entretenimento, a essência de Hollywood. E todos os meus objetivos foram alcançados, conheci muitos anjos na cidade que leva seu nome e sou eternamente grata por todas as oportunidades que LA me deu.

Mas para os nova iorquinos, especialmente aqueles que não trabalham ou têm qualquer experiência com o entretenimento e estão acostumados com a cultura do trabalho árduo, curtem a inspiração que só um dia cinza traz e vivem com todas as vantagens de um transporte público, fica mais difícil enxergar as vantagens do seu azul e do estilo de vida da Cidade dos Anjos.

Para quem cresceu sendo mais um na multidão e não precisa vender o peixe que é isso ou aquilo numa conversa boba e superficial no balcão de um bar (às vezes, nem por uma necessidade profissional, mas só pelo vício de fazer aquele discurso ensaiado) será muito mais desafiador se encaixar na cultura “angelena.”

A diferença entre as duas cidades é tão grande quanto as 6 horas de voo que as separam mesmo, isso sem contar com as 3 horas de fuso horário.

Em NY eu tenho a impressão que quanto mais real e objetivo você é, mais longe você chega. Eu particularmente acho as pessoas em NY extremamente gentis, sinceras e um tanto sarcásticas. Elas tem um senso de humor mais apurado, o que só me agrada.

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Não sou fã do frio não, mas sou apaixonada pelo fato de andar na rua ou no metrô e me sentir parte da torre de babel que é esta cidade. Depois dos anos de LA, eu percebi que sinto falta do barulho, que me acompanhava no Rio de Janeiro, e até do esbarrão que levava caminhando na Avenida Rio Branco. É como se eu tivesse tirado um longo período de férias e agora em NY tenha me reaproximado das minhas raízes.

Eu confesso porém que é bom voltar para LA, trabalhar por umas semanas, andar de carro, descansar e admirar a beleza desta cidade que parece cenográfica, e depois encarar as longas horas no avião e voltar pra Maçã, é como se fosse voltar pra realidade.

Mas a verdade é que na minha singela opinião nem a Selva de Pedra é tão dura quanto muitos pensam ou falam, nem a Cidade de Papel e tão superficial como leva a fama. Tem beleza e prazer nos dois mundos. Às vezes é bom viver só o sonho californiano, como às vezes é preciso colocar os pés no chão e cair na real nova iorquina, lembrar que as pessoas existem de fato e são mais profundas, tiem mais conteúdo. O mundo ideal pra mim seria passar o resto da minha vida entre essas duas cidades que tanto me encantam e tanto transformaram a minha vida. E continuar sendo recebida de braços abertos no Rio, a cidade onde eu cresci é sem dúvidas a mais bela de todas.

Concluo que na verdade nunca vou conseguir responder a pergunta, nunca vou conseguir de fato escolher entre NY e LA.

So me resta então agradecer à NY e LA por todo o aprendizado e sonhos realizados e ao Rio de Janeiro, sim com todos os seus problemas, pelos anos de farra e alegrias.

E pra encerrar, acho que a casa da gente é onde nosso coração está, e não necessariamente ele precisa escolher um lugar só, então posso dizer que moro em 3 das mais poderosas e fascinantes cidades do planeta. E sou muito feliz por isso!

2 comentários sobre “A pergunta que não quer calar? Viver em NY ou LA?

  1. Conhecer o você, o Hollywood É Aqui e o fato de você sempre compartilhar as suas experiências, só reacendeu meu sonho de viver isso tudo. Obrigada tia Claudinha, por sempre compartilhar suas experiências, por ensinar tanto e sobre muito!
    Xero <3

  2. Eu tinha sempre essa dúvida, é bom ffalar com alguém que tem essa experiência. Eu estou aprendendo inglês e estou tentando investir no cinema ou na música, minhas paixões. Obrigada pela dica, foi de grande ajuda.

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