Matthew Quick, Autor de “O Lado Bom da Vida” – Entrevista Exclusiva

Um professor de 30 anos de idade, casado, morador de um bairro classe média na cidade da Filadélfia, nos EUA, decide se reinventar. Pede demissão de seu trabalho estável e com o apoio de sua esposa, vende sua casa e vai viver com os sogros a fim de realizar o sonho de ser um escritor de livros.

Este poderia ser o enredo de um filme, mas na realidade foi o que Matthew Quick, autor do livro “O Lado Bom da Vida” fez para dar o pontapé inicial na sua carreira.  Não foi uma decisão fácil, nenhuma reviravolta é, mas como diz Matthew, valeu a pena.  Hoje o autor tem a sua obra traduzida em vários idiomas e fãs espalhados pelo mundo, especialmente no Brasil, que ele pretende visitar em breve para o lançamento de seu próximo livro “Forgive Me”.  Não ter medo de fazer mudanças radicais para realizar seu sonho, lhe rendeu bons frutos, como a adaptação do seu livro para o cinema feita pelo aclamado diretor David O. Russell. O filme, que tem o mesmo nome do livro, foi indicado para o Oscar de Melhor Filme em 2013, assim como os atores intérpretes dos personagens principais, Jennifer Lawrence (vencedora do Oscar de melhor atriz) e Bradley Cooper. Robert De Niro e Jacki Weaver, intérpretes dos coadjuvantes também foram indicados ao prêmio máximo do cinema mundial, o que não se via há anos na Academia.

O falante, simpático e otimista Matthew bateu um *papo conosco pelo telefone, conversamos sobre carreira, sucesso e a importância de abordar as doenças mentais, tema central de seu trabalho, em livros e filmes. E mesmo vivendo o topo de seu sucesso, Matthew compartilha conosco um conselho precioso, daqueles que vem de uma alma generosa, batalhadora e humilde: “Muitos tendem a escrever sobre o que detestam. Eu digo, escreva sobre o que você ama. Ódio tem picos, o amor permanece.”

E se a vida de Matthew Quick fosse transformada em roteiro de cinema, seria um daqueles filmes que emocionam e que têm um final feliz.


CC: Alô Matthew? Aqui é a Claudia do E! Online Brasil. Muito obrigada por nos conceder esta entrevista.

MQ: Sim, sou eu! Oi, tudo bem com você? E um prazer, obrigado vocês por cobrirem o meu trabalho, agradeço muito.

CC: Seus livros são best-sellers no Brasil. Parabéns! Eu trabalho com adolescentes e jovens e basicamente todos os dias eles falam dos seus livros nas redes sociais. Especialmente, “O Lado Bom da Vida”.  Eles adoraram tanto o seu livro como o filme. Eu também sou uma grande fã de seu trabalho.

MQ: Muito obrigado, estou lisonjeado pela ótimo retorno que recebi dos leitores no Brasil.

CC: Você pediu demissão de seu trabalho estável, vendeu sua casa anos atrás, foi viver com seus sogros para correr atrás dos seus sonhos. Todas decisões corajosas. Em algum momento você se arrependeu de dar essa reviravolta em sua vida?

MQ: Me arrepender ? Sim, nos primeiros 3 anos e meio, eu não recebi nenhum pagamento e surgiu um pouco de dúvida, principalmente nos EUA, se você é um homem de 30 anos de idade que não está fazendo dinheiro, as pessoas aqui não te respeitam. Minha família não vem da área artística, então eles não entendiam o que eu estava fazendo. Eu estava bem solitário enquanto escrevia, foi bem difícil no começo.

CC: Realmente para obter sucesso são necessários vários sacrifícios. Você trabalhou duro para alcançar seus objetivos. Hoje se tornou uma inspiração para as pessoas que estão vivendo uma situação semelhante. Isso é incrível. Vamos falar um pouco sobre seu livro “O Lado Bom Da Vida”  que fez tanto sucesso nos EUA, como no Brasil e no mundo. O personagem principal Pat lê muitos livros com o objetivo de reconquistar sua esposa Nick. Você menciona o nome destes livros e seus autores. Como você os escolheu?

MQ: Dei aulas de inglês para segundo grau por muitos anos e todos os livros que mencionei são os livros que eu usava quando lecionava. Eu amo esses livros, sou grande fã de Hemingway, adoro todos os livros que Pat lê. Quando lecionava, os alunos não entendiam porque eu pedia que eles lessem os clássicos da literatura. Os pais dos alunos, às vezes, ligavam chateados porque o filho estava triste e eles estavam preocupados porque todos os livros no meu currículo escolar eram depressivos. Quando eu estava escrevendo “O Lado Bom da Vida” eu tive um “insight” e lembrei dessa conversa.  Isso se tornou uma preocupação pra mim porque nos EUA, tirando os clássicos, a maioria das histórias termina com um final feliz. O que não é tão importante para mim. Costumo lembrar as pessoas que Shakespeare escreveu ambos os estilos, comédia e drama e nós precisamos dos dois lados da moeda. Afinal, a literatura é como a vida, tem um pouco de cada um. Achei interessante abordar esse assunto no livro.

CC: Certamente, você tem razão. Vejo que você se inspirou em suas experiências pessoais para escrever “O Lado Bom da Vida”. Você é da Filadélfia, certo? Você é fã do “Eagles” (o time de futebol americano do estado da Pensilvânia)?

MQ: Sou um grande fã dos “Eagles”, comecei ir aos jogos quando tinha 5 anos com meu pai. Tenho fotos com ele me segurando desde pequeno.  Sempre que posso e quando estou na Filadélfia, vou aos jogos sim. O “Eagles” é uma grande parte da minha herança.

CC: Você tem alguma superstição?

MQ: Eu sempre uso a camisa do Mike Quick, mas ele não é parente nosso, apesar de ter o mesmo sobrenome. Uso a camisa do time e sempre  gosto de ir aos jogos com as mesmas pessoas.

CC: Você é fã do David O. Russell (o aclamado diretor/roteirista que adaptou o livro de Matthew Quick “O Lado Bom da Vida” para o cinema). O que você achou do filme? Por que você acha que o filme foi tão elogiado pela crítica e pelo público, sendo indicado a vários prêmios, inclusive o Oscar de melhor filme? E a atriz Jennifer Lawrence, que é uma das minhas atrizes  favoritas em Hollywood, ganhou um Oscar pela sua interpretação da personagem,”Tiffany”. Como você se sente diante de todo este sucesso?

MQ: Eu sou muito grato. Uma das razões pela quais eu acho que o filme obteve tanto sucesso e porque a equipe toda era muito talentosa. Harvey Weinstein (um dos maiores produtores de Hollywood, cuja empresa levantou fundos para a realização do filme) e ótimo no que faz, aliás, todos os produtores são excelentes. David é um ótimo contador de histórias, muito talentoso, já era fã dele antes dele se envolver com o projeto. E, claro, Bradley Cooper, Robert De Niro e Jennifer Lawrence, Chris Tucker formaram um ótimo elenco. Existe uma grande necessidade nos EUA e no mundo de se falar mais abertamente sobre doenças mentais. Não posso citar nomes, mas praticamente todos que estavam envolvidos com o filme têm pessoas na família ou amigos com problemas mentais. Eles queriam ajudar de alguma forma porque se preocupam com o assunto. Acho tudo muito autêntico no filme, muito real.  Quando as pessoas leem o livro, também percebem que existem pessoas lutando contra essas doenças. Nós precisamos ter mais conversas sobre esse assunto e, acredito que por isso que a resposta do público foi tão positiva. Muita gente tem este problema na família e se identificou com esses personagens da vida real.

CC: Concordo plenamente. Percebi que no Brasil, os adolescentes estão falando muito mais sobre este assunto  depois de terem lido o livro e visto o filme. Isso é maravilhoso. Na verdade, para mim este é o papel  do entretenimento na sociedade. Você esta ajudando muitas pessoas através do seu  livro.

MQ: É muito bonito escutar isso, muito obrigado, significa muito pra mim. O livro conta muitas histórias, mas o lado da doença é muito importante pra mim também, é bom escutar você falando isso, obrigado.

CC: Você tem um novo livro que será lançado em breve. Estou curiosa, podemos falar um pouquinho a respeito deste assunto também?

MQ: Sim, claro. “Forgive Me” será lançado nos EUA em agosto. É sobre um jovem que no seu aniversário de 18 anos  decide levar a pistola da II Guerra Mundial do seu avô para a escola, com a finalidade de matar seu melhor amigo e se suicidar na sequência. É basicamente um dia na vida de “Leonard Peacock” e ele tem que decidir se leva seu plano adiante ou não. Este livro também aborda muitas questões de doenças mentais. E é uma reflexão sobre as tragédias que acontecem nas escolas nos EUA. Ao invés de nos perguntarmos somente quais são os problemas dessas escolas, meu objetivo foi levantar a questão de como os professores lidam com alunos mais sensíveis e com problemas? O que pode ser feito para ajudar esses alunos? O livro é um pouco pesado, mas no geral traz muita luz  e passa uma mensagem positiva. Eu estou muito feliz e empolgado com o livro.

CC: Parece muito interessante e empolgante. Você pensa em transformar esse livro em filme? Porque a história soa como um roteiro de filme, certo?

MQ: Nós já temos isso amarrado sim, mas não posso fazer nenhum anúncio ainda, o anúncio virá em breve.  O que eu posso dizer é que o próximo livro será lançando no Brasil em janeiro, e os direitos autorais para o filme foram adquiridos pela Dreamworks e já estão trabalhando no roteiro já.

CC: Que legal! Já estou na expectativa!

MQ: Sim, nós estamos bem empolgados também!

CC: Para fechar com chave de ouro o nosso papo, qual o conselho que você pode dar para aqueles que estão começando a carreira como escritores ou mesmo para quem tem o sonho de seguir a carreira artística?

MQ: Sim, absolutamente. Eu sempre digo aos escritores novatos que em primeiro lugar muitas pessoas dizem para escrever sobre o que você sabe, e eu digo para escrever sobre o que você ama. Eu acho que muitos novatos tendem a escrever sobre o que eles odeiam, fazem críticas, acho que é uma fase que você passa quando jovem e não cai bem. Mas quando você escreve sobre o que ama, é duradouro, enquanto o ódio tem um picos, mas logo é esquecido, o amor permanece. Descubra o que você ama, o que realmente lhe importa e escreva sobre isso.  A segunda coisa que digo aos escritores e que se você quer ser um artista, não seja um crítico. O que eu quero dizer com isso é que jovens, quando muito jovens, não têm arte para oferecer aos outros e por isso saem dando sua opinião sobre tudo e isto pode trazer problemas para eles. Se você quer ser um artista, apoie outros artistas. Por exemplo, quando leio um livro sempre tento descobrir o que funciona e o que não funciona, como a pessoa conseguiu transformar em filme, eu tento aprender de todas as formas de arte a respeito daquela peça. E é assim que eu me sinto sobre escrever, quais são meus estilos preferidos, tento sempre ver o lado bom em tudo. Acho que é muito importante que os escritores pensem nisso, pois estão sempre criticando, agindo de forma negativa e isso nunca vai te tirar do fundo da pilha de pessoas que tentam todos os dias o sucesso. Você precisa encontrar o lado bom nas suas  próprias palavras. Eu sempre digo: procure o lado bom, saia de perto do lado ruim no que quer que você faça, tente apoiar as pessoas, cerque-as com coisas positivas. Último conselho, se alguém te fizer sentir que você não pode ser um artista, saia de perto dessa pessoa, vá para o mais longe possível e cerque-se de pessoas que acreditam em você!

CC: Isso foi muito bonito!

MQ: Muito obrigado!

CC: Foi demais! Ótimos conselhos, até para mim! Muito obrigada pelo seu tempo, parabéns pelos seus livros! Mal posso esperar para ler “Forgive Me” e mais uma vez obrigada. Espero vê-lo no Brasil num futuro breve!

MQ: O prazer foi meu! Sim, talvez eu vá para o lançamento de “Forgive Me” em agosto, gostaria de conhecê-la e obrigada pela entrevista!

*Colaboraram na entrevista Camila Sá e Luana Mattos.

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