50 tons de bom senso: Pela boa convivência nas redes

facebook-like-buton-300x151Há bastante tempo não via uma batalha tão grande nas redes sociais em relação ao lançamento de um filme, como acompanhei em fevereiro quando “Cinquenta Tons de Cinza” chegou à telona. Estrelado por Dakota Johnson e Jamie Dornan, dirigido Sam Taylor-Johnson, foi baseado na trilogia de mesmo nome escrita por E.L. James, que vendeu mais de cem milhões de cópias pelo mundo afora e é considerado um dos fenômenos culturais deste século até hoje.

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A guerra entre os fãs da obra e os que a consideram pornografia me assustou. Pelo menos teoricamente nós vivemos uma democracia e respeitar a opinião alheia, especialmente quando você não concorda com ela, é um dos pilares da boa educação.

Mas o grupo ofendido pelo romance de Anastasia Steele e Christian Grey, protagonistas da história, não mediu esforços em suas críticas. Alguns mais radicais chegaram a protestar denunciando os próprios amigos ao Facebook por postarem em suas páginas fotos promocionais mais “picantes” do filme alegando serem pornográficas.

O movimento contra acabou gerando mais publicidade para “Cinquenta Tons de Cinza” que já bateu recordes de bilheteria e arrecadou mais de 550 milhões de dólares até o momento.

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Não li os livros, não sou muito fã de romance, e quando folheei algumas páginas realmente não me senti atraída pelo estilo da escritora. Mas uma coisa é certa, como publicado na edição especial sobre o filme da respeitada revista americana Newsweek: gostando ou não dos livros de E.L James, ela causou uma revolução sexual, ao escrever um romance para a massa em torno das práticas da subcultura do “dominante e submisso”. E.L James não só ficou milionária, como segundo depoimentos de seus fãs publicados na revista, graças aos livros, mulheres de todas as idades saíram da sua zona de conforto e, inspiradas no romance de Ana e Christian, salvaram seus casamentos e namoros.

A revolução que o livro causou também me impressionou um pouco. Talvez porque eu seja fã de Nelson Rodrigues desde a adolescência. Sempre gostei de histórias sobre relacionamentos humanos, sem fantasias, sem hipocrisia. Sem dúvidas acho “Aritmética”, o livro da nossa Fernanda Young, uma obra-prima, que foi lançado muito antes da trilogia e aborda por outro ângulo a mesma temática. A diferença dos livros e peças de Nelson e Young e “Cinquenta Tons de Cinza” é o final feliz. O que faz uma realista como eu ser mais apegada aos autores brasileiros, mas ainda assim não posso ignorar o fato que esta Cinderela, Ana, pelo menos, é mais humana e não tem vergonha do seu corpo e seus desejos, diferente da figura perfeita mostrada pela Disney.

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Eu mesma confesso que fui assistir ao filme devido ao bafafá nas redes sociais. As críticas radicais me levaram ao cinema no dia da estreia nos EUA, e a divertida e bela Dakota Johnson, o gato Jamie Dornan, a trilha sonora, e a caprichada produção visual fizeram eu curtir o filme muito mais que eu imaginava. Me diverti com a história de Christian Grey e Anastasia Steele, mesmo estando totalmente fora do público-alvo do livro. Não achei nada revolucioneario, mas de forma nenhuma pecaminoso.

No mais, estou com a Dakota, intérprete de Anastasia, que em entrevista à revista “Glamour” diz que sua personagem, a supostamente “submissa da relação”, não é fraca, mas muito mais forte que o multimilionário dominante Grey, “tudo que Ana faz é escolha dela. E se eu puder defender o direito das mulheres fazerem o que quiserem com seu corpo e não terem vergonha disso, eu farei”.

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O termo “submissa” nestas circunstâncias não necessariamente é sinônimo de fraqueza, mas de escolha. Provavelmente, os críticos mais radicais devem concordar comigo que a Bela, personagem da história da Disney, “A Bela e a Fera”, é a verdadeira escrava já que sua submissão sim não foi uma escolha e sim uma imposição da Fera.

O interessante é que, até hoje, não vi ainda uma guerra nas redes sociais em relação à maneira como as mulheres, os negros, os asiáticos, os índios e até os brasileiros são tratados nos filmes da Disney. Provavelmente, porque os críticos de “Cinquenta Tons de Cinza” não tiveram a chance de assistir o documentário “Mickey Mouse Monopoly”, que faz uma análise profunda das histórias da Disney, assistidas pelas crianças desde de pequenas, e que por trás do encantamento e da música, são mais perigosas que o romance de Ana e Grey, na trilogia “50 Tons de Cinza”. Compartilho aqui a dica para que assistam ao documentário feito por renomados sociólogos norte-americanos.

 

 

A polêmica em torno de “Cinquenta Tons de Cinza” nas redes sociais me chamou a atenção em como as pessoas têm se comunicado ultimamente.

Sou defensora em não termos vergonha de expressar nossa opinião onde quer que seja, mas devemos responder com classe ao que discordamos nas redes sociais. Não é preciso ser fã dos livros ou do filme, ninguém é obrigado a gostar de nada, mas a educação e o talento está em respeitarmos a opinião dos outros, especialmente quando são contrárias às nossas.

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E isso serve pra tudo, política, economia, entretenimento ou música, afinal gosto não se discute, cada um é livre para curtir o que acha legal e demonstrar isso publicamente. Sei que não é fácil praticar o exercício de não se intrometer na vida do próximo e não criticá-lo gratuitamente, mas é necessário. Se você é da turma que não curte o tema do livro, está super certo em não ler, não assistir ao filme e deixar isso claro, os seus amigos têm que entender. Assim como você, ao invés de travar uma batalha tentando convencê-lo de que o que ele gosta é pornográfico, deseje uma boa leitura, um bom cineminha para o amigo e compartilhe o livro que você está lendo no momento, e que vai te fazer tão bem quanto “Cinquenta Tons de Cinza” faz pra tanta gente.

Afinal, como disse o poeta…. Cada um pensa como pode! E ao invés de usarmos o Facebook, Twitter, Instagram, emails, para trocar farpas, palavras ofensivas, críticas severas, que tal, aproveitarmos a oportunidade que a tecnologia nos dá para trocarmos boas energias, palavras amigáveis e dicas divertidas? Acho que todo mundo sairá ganhando muito mais.

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