“Duas Vezes na Floresta Escura”

Por: Carl

Caio RITER
Editora GAIVOTA
2014
164 páginas

SINOPSE: Susana se sentia sozinha naquela cidade em que pouco havia para se fazer. Susana queria que a mãe retornasse, queria poder voltar para seu quarto, para sua escola, para sua amiga Clara. No entanto, sabia que isso ainda iria demorar. Todavia, aquela vida que, num primeiro momento, lhe pareceu insuportável, sofrida, foi se modificando. A garota conheceu a Bethânia, o Caetano, a Nicole. Conheceu também o César, um garoto estranho, que adorava espionar os outros. Até que uma tragédia se abateu sobre aquela cidade tão pacífica. E Susana e seus novos amigos estavam bem próximos dela. Deles, dependia a solução de um bárbaro crime.

A obra de Caio Riter possui duas características que não encontro nos livros atuais: a similaridade com os livros juvenis da época do colégio, onde jovens se metiam em aventuras policiais; e na construção de uma narrativa diferente, que mistura uma espécie de poesia com frases de efeito.

Como qualquer adolescente, que transforma todos os acontecimentos no maior drama que existe, e isso não é uma crítica, é uma constatação própria da idade, Susana transforma o problema de morar em uma nova pequena cidade em algo que vai além da solidão. No início, ela caminha para o que poderia ser uma crise de depressão. A mãe viajou para o exterior, o pai passa o dia trabalhando no banco, apesar de ser um grande companheiro quando está em casa, a cidade é pacata e sem movimento, a melhor amiga ficou para trás e não há nenhuma forma de se falarem, uma vez que na cidade não tem sinal de celular e o telefone fixo não foi instalado. Ou seja, é quase uma exclusão de qualquer contato humano conhecido. Além disso, existe a floresta escura, de onde Susana sente uma estranha atração, e uma incompreensível aversão do seu interior.

 

Aos poucos, e com o início das aulas, Susana começa a aprender que para se conseguir amigos, basta a pessoa saber olhar à sua volta. Ela se aproxima de Bethânea e Caetano, dois irmãos que passam por problemas familiares piores do que os dela, uma vez que os pais os abandonaram e eles vivem sob os cuidados da avó. E de Caetano, surge o flerte, os olhares de quem se sente atraído.

 

 

 

Tem também César, um garoto estranho, reservado, que observa tudo e todos na cidade e que faz anotações em uma pequena caderneta, que não deixa ninguém ler. Ele parece atraído por Susana, uma vez que passa direto na frente de sua casa, além de, vez ou outra, parar e ficar encarando a menina de longe.

A eles se juntam Clara, a melhor amiga de Susana, que decide passar uns dias com ela, e outros personagens, mais ou menos presentes, mas que terão sua cota de importância até o final da história. E isso é uma qualidade imensa do autor, uma vez que ele aproveita totalmente a participação de cada um deles. Todos têm algo que influencia o desfecho da história, não estão lá apenas para preenchimento de espaço.

Duas vezes na floresta escura, é dividido em duas partes em termos de narrativa: na primeira, somos conduzidos por uma descrição em primeira pessoa, feita por Susana; na segunda, passamos para terceira pessoa e acompanhamos, também, a ação sob o ponto de vista de outros personagens. Isso, porque é na segunda parte que acontece o assassinato de um dos personagens que mencionei acima, e os garotos se unem, à revelia da polícia e dos pais, para encontrarem o culpado.

 

A edição da editora Gaivota é belíssima, de um enorme bom gosto, com um capricho e uma atenção aos detalhes que se destaca de qualquer outra editora. Vou tentar explicar: ela consegue ser simples, ao mesmo tempo que a disposição de seu conteúdo, páginas e imagens, é feita de forma harmoniosa, que casa com o conteúdo da história, ou seja, não é feita apenas para os olhos, mas para os outros sentidos também.

Duas vezes na floresta escura é uma daquelas obras pouco conhecidas, que deveriam substituir ou, no mínimo, completar as leituras que são dadas pelos colégios. Ele trata de solidão, exclusão social, abandono patriarcal, amizade, inveja, ciúme, preconceito, traição, pedofilia, tudo sem ser uma salada, mas sabiamente dividido, inserido de forma orgânica. É um exemplo de como temos leituras atuais que transmitem e ensinam as mesmas coisas, ou mais, do que os clássicos que somos obrigados a ler nessa fase, com a vantagem de serem atuais, de se conectarem com nossa realidade e não com a de nossos avós.

É uma pena que livros como este não sejam amplamente distribuídos e mais divulgados. Os adolescentes estão perdendo uma belíssima leitura.

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