De Pernambuco para o mundo, o sucesso do curta-metragem “Olhos de Botão”

Por: Stephanie Pendl

Lançado em 2015, “Olhos de Botão” tem feito uma linda carreira em festivais de cinema. O curta é dirigido por Marlom Meirelles, realizador que compõe a nova geração de cineastas de Pernambuco. Até o momento, foram mais de 60 festivais em 12 países, angariando 25 prêmios e reconhecimento da crítica. Inclusive, foi convidado para ser exibido na Universidade de Harvard, em evento no David Rockefeller Center for Latin American Studies.

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O filme foi integralmente captado em Serra Negra, distrito da cidade de Bezerros. Com a empreitada, o diretor retornou a sua terra natal para contar uma história bastante peculiar, que mistura o campo das relações pessoais e afetivas ao universo das lendas urbanas, muito típicas no Estado.

O clima de suspense que o filme estabelece é um elemento característico de algumas histórias populares de Pernambuco, como “A Perna Cabeluda” e “A Emparedada da Rua Nova”, transmitidas de geração em geração. Conhecidas pela originalidade, pelo uso de elementos fantásticos e por lidarem com o imaginário regional, essas histórias apresentam estruturas marcadas pelo mistério, e brincam com as crenças e a moral típicas da população do agreste. “A mamata vai acabar, visse? Vou te levar um dia na feira e te esquecer lá. Botar na porta de outro infeliz”, ameaça Dora, diante da menina assustada com um mundo incompreensível e hostil. Assim também são as lendas, que se perpetuam passando de ouvinte em ouvinte, como crias deixadas nas feiras, nas esquinas, nas portas das casas, e que são levadas adiante em diferentes versões.

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Os atores são de três municípios distintos. A menina Eduarda Andrade, selecionada em um dos concorridos testes de elenco que aconteceram no município de Bezerros, conta com a experiência dos veteranos Beto Aragão, ator da cena teatral caruaruense, e Zezita Matos, de João Pessoa, atriz que traz no currículo filmes de sucesso, como o longa-metragem “O Céu de Suely”, de Karim Ainouz.

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Tivemos o prazer de bater um papo exclusivo com o diretor Marlom Meirelles que nos revelou os desafios e o prazer deste incrível projeto. Confiram:

O que te motivou a dirigir o filme Olhos de Botão?

Os personagens apresentam um triangulo estruturado de tal forma que o público acaba sendo levado por um caminho tênue e incerto. Isso faz com que os espectadores participem da construção psicológica dos personagens e que de certa forma tomem algumas decisões criativas. Eu acho que este tipo de história é mais interessante para um curta-metragem, pois o filme termina de ser exibido na tela, mas continua presente na mente daqueles que o assistem. Outro fator que me motivou a dirigir este filme é o fato de que ele aborda sentimentos muito primitivos e dualísticos. A dualidade na condição humana sempre me intriga / instiga.

Quanto tempo entre o roteiro e a finalização do filme?

O roteiro foi feito ao longo de alguns anos. A ideia veio até mim através de um contista local e posteriormente eu desenvolvi a primeira versão do roteiro. Depois fechei uma parceria com o Flavio Cafiero, que mora em São Paulo, e juntos realizamos a versão final, que foi selecionada para receber patrocínio do Governo de Pernambuco. Da etapa inicial até o lançamento do filme foram 5 anos.

Quais foram as maiores dificuldades e o maior prazer em fazer o filme?

Foi um prazer imenso trabalhar com uma equipe afiada, cheia de profissionais que admiro. Os desafios foram mais logísticos e operacionais, mas a produção tirou de letra!

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Qual cena você diria aos espectadores, assistam esta com atenção porque ela é muito especial? E qual a sua cena predileta no filme?

Durante todo o filme há uma série de detalhes que devem ser observados. Contudo, se é pra escolher uma cena apenas, diria ser a cena final. É um momento muito emblemático, onde o público acaba participando da construção do desfecho dos personagens. A cena em que Dora e Júlia brigam pela primeira vez, pois ela muda o tom do filme e deixa claro o incômodo que a criança causa dentro daquele ambiente cristalizado pelo tempo. A partir daí o público começa a entender melhor os personagens e o ritmo do curta muda drasticamente.

Como foi feita a escolha do elenco?

Zezita Matos é paraibana, uma atriz bastante premiada e conhecida no cenário nacional. Beto Aragão é um ator de teatro de Caruaru, com algumas participações no cinema, e a pequena Eduarda Andrade é natural de Bezerros, cidade onde gravamos o filme. Portanto os três vem de contextos distintos.
Durante a pesquisa, busquei por atores que se enquadrassem no perfil físico que os personagens pediam e que pudesse representar os regionalismos típicos do nordeste.

O que o público pode esperar do filme Olhos de Botão?

O público não sabe muito bem o que esperar do filme. Eu conversei com inúmeras pessoas que assistiram ao curta e o retorno é sempre de que o filme os surpreendeu. Acho que o público deve estar preparado para isso: as surpresas que os esperam.

Em uma palavra defina o filme Olhos de Botão.

Surpreendente.

Assista a “Olhos de Botão”:

 

 

Confira o making of de “Olhos de Botão”:

 

 

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