Frente a frente com Zendaya e o elenco de “Euphoria” que estreia na HBO

“Euphoria”, nova série da HBO, criada por Sam Levinson e estrelada por Zendaya, ainda nem estreou e já esta causando o maior bafafá entre os críticos e jornalistas nos EUA. Um dos motivos são as tantas vezes que um pênis aparece na tela, que bateu recorde na TV no país.

Verdade seja dita, a cultura norte-americana trata os adolescentes de forma superficial e hipócrita na TV, e por isso, um pênis ereto vira manchete. Mas, bendita hora que a HBO deu carta branca para os produtores de “Euphoria” usarem cenas intensas, profundas, autênticas e realistas para revelar a verdade sobre um grupo de jovens que usam drogas, fazem sexo, sofrem estupro, bullying, e buscam acima de tudo dar a volta por cima, começar de novo, vencer os vícios e os desafios, encontrar um grande amor e descobrir o prazer de sentir sem precisar se drogar. Sendo assim, quando um pênis aparece, é porque ele é pertinente à estória que está sendo contada, não é para agredir, mas para dar às cenas a autenticidade que o roteiro pede, e claro que isso incomoda aos hipócritas de plantão, que incluem membros da imprensa.

 

 

Tive o privilégio de não só assistir o primeiro episódio como participar de um bate-papo com Sam, Zendaya e os atores Hunter Schafer, Barbie Ferreira e Eric Dane, que integram o elenco, na première da série, na noite de abertura do ATX TV Festival, em Austin, semana passada.

O seriado, que estreia amanhã na HBO, é o mais profundo e realista do gênero jovem, que já vi produzido nos EUA. O roteiro é fantástico, as atuações são brilhantes, a trilha sonora contribui positivamente para a estória e a fotografia é bela. Acredito, de verdade, que vai revolucionar o gênero, assim como fez a também genial série britânica “Sex Education”.

 

 

O objetivo do seriado é incomodar, causar desconforto, pois ele tira a camadas superficiais dos personagens e apresenta as suas almas, o que se passa pelas suas cabeças quando chegam no fundo do poço. É como se fosse um convite aos pais para conhecerem de verdade os bastidores da vida de seus filhos.

Emociona, entristece, nos faz pensar. É especialmente tocante para os dependentes químicos, e para os pais e pessoas que convivem com um adicto. Como a mãe que estava presente na noite de abertura do ATX e fez questão de levantar e compartilhar com os presentes a sua dor de ter um filho viciado em drogas. Ela reconheceu a sua jornada familiar na série, parabenizou o criador e disse o quão importante para ela é a produção de um seriado realista como “Euphoria”, pois chama atenção dos pais para alguns sintomas que muitas vezes, como no seu caso, passaram despercebidos.

Seu depoimento emocionou toda a plateia, incluindo Sam, que fez questão de ressaltar que ele também é dependente químico e que “Euphoria” foi baseada em fatos que aconteceram em sua vida. Sam passou uma temporada em um centro de reabilitação aos 19 anos, e com a voz embargada e lágrimas nos olhos disse que hoje, aos 34, esta recuperado. Ele complementou agradecendo os elogios e afirmando que, ao criar esse seriado, ele viveu a sua catarse, que contribuiu ainda mais para mantê-lo saudável. Como existe um tabu para falar abertamente sobre dependência química do ponto de vista do doente e da família, ele vê na série uma excelente oportunidade para que o assunto seja abordado em casa, entre pais e filhos.

Sam fez questão também de dizer que o elenco se entregou de corpo e alma aos seus personagens e que a autenticidade das cenas vem da dedicação dos atores. Especialmente Zendaya, que vive um turbilhão de emoções e mostrou desde o piloto ser uma atriz que sabe interpretar um papel profundo como Rue.

Por sua vez, Zendaya afirmou que Sam e seu colegas lhe deram a segurança que ela precisava para mergulhar nessa personagem cujo universo é muito diferente do seu, mas que no fundo suas almas são semelhantes. Ela afirmou que aprendeu e amadureceu muito com Rue.

Hunter, Barbie e Eric também compartilharam o orgulho de fazer parte de um projeto que, de certa forma, é revolucionário até para a HBO, em relação à forma como será apresentado. E Hunter, que interpreta Jules, uma menina trans, destacou a responsabilidade em representar os transgêneros.

O papo com Sam e com o elenco foi tão inesquecível como o intenso piloto de “Euphoria”. Uma série que vem educar, com a ideia de tirar a venda dos olhos da sociedade, alertar sobre questões importantes do universo adolescente que é conveniente para muitos não prestarem atenção. A ideia de Sam é alertar para as causas da dependência química, antes das consequências, um grito de alerta para que tanto o doente quanto quem está ao seu redor possam reconhecer e tratar o problema desde o início. E, sim, um pênis ereto é pertinente para contar essa estória, na hora que foi e como foi, assim como a narração de Rue, as lágrimas, os sorrisos, as cenas de sexo e a descoberta de um novo amor. A vida como ela é. Pela lente e pelas belas palavras escritas por quem a viveu.

 

“Euphoria” provou que o talento de Zendaya vai muito além da Disney, e que é preciso não ter medo e ser intenso para inovar um gênero televisivo. A HBO já declarou que espera receber críticas dos conservadores, mas acha que os benefícios que “Euphoria” vai trazer compensam. Já eu tenho certeza que as séries sobre adolescentes nunca mais serão vistas da mesma forma nos EUA, depois da estreia de “Euphoria” amanhã. Assista e faça parte da revolução da história da televisão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *