Frybread Face and Me: Longa trata de temas universais como o amor e a união em família

Sabe aquele filme que abraça o seu coração? “Frybread Face and Me” não só me fez relembrar das férias que passava no sítio da minha avó na infância, no interior do estado do Rio de Janeiro, como me trouxe lembranças mais recentes, da viagem que fiz pela Rota 66, quando passei em Tucumcari, no estado do Novo México, cidade onde os protagonistas fazem uma parada.

“Frybread Face and Me” foi escrito e dirigido por Billy Luther. É estrelado por Keir Tallman como Benny, um menino de San Diego que é enviado para passar o verão com sua avó Navajo Lorraine (Sarah Natani) na reserva onde ela mora, no Arizona. Lá Benny conhece e se conecta com sua prima Dawn, apelidada de “Frybread Face” (Charley Hogan) e os dois passam dias que marcam suas vidas pra sempre.

Estive na estreia do filme em Los Angeles, que incluiu um bate-papo depois da sessão que contou com a presença do roteirista/diretor Billy Luther, do produtor Chad Burris, do diretor de fotografia Peter Simonite, do editor Fred Koschmann e dos atores Martin Sensmeier, Kahara Hodges e Charley Hogan.

As férias de Billy com sua prima na casa de sua avó, numa reserva indígena, me tocou profundamente porque me mostrou quantas coisas temos em comum, embora sejamos de países diferentes, falemos idiomas diferentes e tenhamos culturas diferentes, o amor que une um grupo de pessoas transcende qualquer fronteira e qualquer barreira e, um filme simples como esse, chama atenção para as nossas semelhanças, em um mundo onde cada vez mais as pessoas se afastam por conta de suas diferenças.

Eu estava aos prantos quando o filme terminou e as luzes acenderam. Nem tinha reparado que Billy, o roteirista e diretor, estava do meu lado, olhando pra mim e sorrindo. Na minha emoção, ele percebeu que sua mensagem foi entendida e sentida e isso é tudo para um cineasta. Até porque eu não fui a única. Pelos aplausos e lágrimas da audiência, a emoção dominou o coração de muitas pessoas presentes na sessão.

No bate-papo, Billy falou que o objetivo dele ao compartilhar esse momento da sua infância era não só homenagear a sua família, como mostrar ao mundo que as férias de verão numa reserva indígena no Arizona, embora com limitações de eletricidade, por exemplo, não são tão diferentes da experiência de outras crianças, de outras culturas, em outros lugares do mundo, “esse filme é sobre família, sobre amor, sobre dois pré-adolescentes se divertindo e aprendendo um com o outro. Nada melhor que a casa da avó da gente para nos acolher em tempos de crise. Foi essencial pra mim, mas acho que é pra muita gente também e, por isso, fico feliz ao ouvir das pessoas o quanto elas se identificam com a minha história”.

Os atores Martin Sensmeier e Kahara Hodges, que no filme interpretam irmãos, são casados na vida real. Kahara contou como foi sua reação ao ler o roteiro, “Billy já tinha trabalhado com o Martin e deu para ele o script. Um dia, durante a pandemia, eu peguei pra ler. Desci chorando e disse ao Martin que queria participar do projeto de qualquer jeito. Realmente tocou meu coração, especialmente ao ver a minha infância, como mulher indígena, tão bem representada”. Martin complementa, “eu e Billy trabalhamos juntos há anos, eu digo sim pra tudo que ele propõe porque são trabalhos incríveis e esse não foi diferente. Além disso, atuar com a minha esposa e esse elenco maravilhoso foi um presente”.

O filme marca a estreia da super talentosa Charley Hogan, como Dawn (Frybread Face), na telona. A atriz compartilhou sua experiência e comentou sobre a química do elenco: “Eu fiz vários testes com a produtora de elenco, até que ligaram pra minha mãe dizendo que eu tinha sido escolhida. Foi demais. A gente passava bastante tempo juntos, brincando, jogando com Keir, Kahara, Martin e o Billy também. A gente se divertiu bastante quando não estava filmado e quando estava filmando. Foi ótimo. Espero que tenha outros trabalhos assim”.

Já o produtor Chad Burris destacou os desafios da produção, já que o filme foi rodado logo após o isolamento social, em consequência do COVID, “a gente estava saindo de um período muito difícil e todo mundo estava desesperado pra trabalhar, ao mesmo tempo, todas as produções de cinema e TV voltaram praticamente juntas, então perdíamos pessoas da equipe todos os dias para produções maiores e mais longas. Dava pra entender, claro, mas foi um dos grandes desafios, pois tínhamos um tempo limitado pra rodar o filme e com constantes mudanças na equipe, atrasamos algumas vezes. Mas com dedicação conseguimos terminar e não estourar tanto o orçamento. Foi um aprendizado”.

O diretor de fotografia Peter Simonite também comentou sobre os desafios de rodar no deserto do Arizona, “o tempo virava muito rápido. Era essencial começarmos a filmar antes das 5 da manhã pra ter os takes do céu azul e do sol, antes que o tempo fechasse e a chuva caísse. Nossa programação era feita pela natureza. Aprendi muito”.

O editor Fred Koschmann corroborou o comentário, “pra mim também foi um aprendizado trabalhar com o Billy. As performances eram espetaculares, a fotografia também, o segredo era escolher os melhores takes, que expressassem a visão do Billy, que era manter a narrativa realista. A experiência dele e minha em documentários ajudou muito a atingirmos o objetivo”.

Realmente o filme é simples, os atores usam praticamente os mesmos figurinos, não tem maquiagem, efeitos especiais, mas tem criança sorrindo, tem briga de família, tem a língua nativa do povo, com isso, tem legenda, tem cerimônia, não tem tecnologia, mas tem Fleetwood Mac e sonhos, tem descobertas, tem amor de vó, que me lembrou a minha avó e me transportou para os dias inesquecíveis da minha infância, numa outra década, numa outra cultura, falando uma outra língua, mas com a mesma pureza de uma reserva indígena no deserto do Arizona.

Brilhante!

Se você ficou curioso sobre o título do filme, o Frybread é um tipo de pão que simboliza o colonialismo. Quando os homens brancos chegaram aos EUA, expulsando os indígenas de sua terra e os isolando em determinadas regiões do país, os colonizadores alimentavam os nativos com o Frybread durante as viagens para outros estados.

Confira os detalhes:

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vvvvv Frybread tem uma história cultural complexa que está inextricavelmente entrelaçada com o colonialismo e o deslocamento dos nativos americanos. Os ingredientes para o pão frito (farinha, açúcar, sal e banha) foram fornecidos, pelo governo dos EUA, aos nativos americanos para evitar que morressem de fome quando fossem transferidos de áreas onde poderiam cultivar e procurar seus alimentos tradicionais para áreas que não apoiariam seus hábitos alimentares tradicionais; o prato é frequentemente visto como um símbolo de colonização e um símbolo de resiliência. Fonte: https://en.m.wikipedia.org/wiki/Frybread
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