Monica, com Patrícia Clarkson e Trace Lysette, mostra núcleo familiar comum na trajetória de mulheres trans

A noite da sessão especial do filme “Monica” começou bem, em LA. As anfitriãs Retta e Sarah Paulson celebraram a comunidade trans, representada na tela pela magnífica Trace Lysette, que interpreta a protagonista.

“Infelizmente, não vemos muitos filmes centrados em mulheres trans. Que ‘Monica’ sirva de exemplo e inspiração para muitos cineastas, produtores, estúdios e streamers”, disse Sarah.

“É uma honra estar aqui hoje para compartilhar com vocês esse projeto lindo do diretor Andrea Pallaoro, que contou essa estória com a ajuda de um elenco brilhante. Preparem-se para se emocionar”, complementou Retta.

E ela não está brincando. Eu não só me debulhei em lágrimas durante o filme, como também chorei, quando as luzes do cinema já estavam acesas, durante o bate-papo que rolou depois da sessão, com a presença do elenco excepcional que Retta já havia mencionado.

“Monica” é o retrato íntimo de uma mulher que volta para casa para cuidar de sua mãe adoecida. Uma história delicada e cheia de nuances de uma família dividida, a narrativa explora temas universais de abandono, envelhecimento, aceitação e redenção. Fonte: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-286409/

Eu amei absolutamente tudo em “Monica”, roteiro, fotografia, a trajetória de uma mulher trans contada de forma autêntica, mas fato que esse é um daqueles filmes que se o diretor não acertasse no elenco, ia comprometer, e muito, o resultado final.

Para a felicidade dos cinéfilos, Andrea acertou e o resultado é pura arte.

A minha emoção veio de um lugar tão genuíno como a relação de Monica com sua família e com Letícia, a cuidadora de sua mãe (Adriana Barraza). Apesar de nossas jornadas serem completamente diferentes, tive em comum com Monica voltar pra casa para encarar a doença da minha mãe (que coincidentemente foi a mesma da personagem de Patrícia Clarkson no filme) e os desafios da convivência com membros da família que têm personalidades e objetivos de vida opostos ao meu. Não é fácil preencher lacunas do relacionamento familiar, ainda mais em momentos de crise.

Mas o fato é que a trajetória de Monica representa um grupo gigantesco de pessoas trans que são expulsas de casa e desprezadas por suas famílias, por serem quem são.

“Eu fiquei afastada anos da minha família. Foi muito difícil. Hoje em dia tenho um relacionamento ótimo com a minha mãe, que me dá todo o apoio. Felizmente, nosso reencontro não foi por causa de doença. Mas a história da Monica tem elementos da minha história e da história de amigas minhas que sofreram rejeição e, muitas, não têm contato com os familiares há décadas. A Monica representa muita gente e uma parte de mim mesma. Por isso que esse projeto é tão importante e especial pra mim”, disse Trace.

Patricia Clarkson (Eugenia) fez coro, “eu já fiz muitos trabalhos memoráveis, mas interpretar a mãe dessa mulher linda e atriz talentosa (se dirigindo a Trace) foi um dos pontos altos da minha carreira. A cena na banheira (não vou dar os detalhes, porque ninguém merece spoiler), foi uma das mais belas e intensas que já fiz até hoje. Quando terminamos, estava todo mundo aos prantos, mas todo mundo mesmo, câmeras, assistentes de produção e direção, até o segurança. Nossa equipe era pequena, mas unida, viramos uma família mesmo e, como rimos juntos, choramos juntos também”.

Emily Browning (Laura) e Joshua Close (Paul) também comentaram sobre o clima familiar deste trabalho. “Apesar de sermos um casal com três filhos no filme, temos poucas cenas juntos, acho até fantástico, porque o casamento dos nossos personagens parece estar em crise. Mas, nos bastidores, passamos muito tempo juntos, íamos pro bar tomar chope, ficamos amigos e daí a química foi natural”, disse Emily.

“Sim, a gente se divertiu muito. Nossos personagens podem não estar vivendo o melhor momento do relacionamento deles na tela, mas a gente tava criando ótimas memórias na vida real. Eu lutei pra conseguir esse trabalho. Eu fiquei encantado com o roteiro, quando li, e praticamente implorei pros meus empresários pra conseguir um teste pra mim, e depois implorei pro Andrea pra me contratar”, contou Joshua aos risos. “Valeu super a pena, não só pela parte profissional, mas pelos amigos que fiz nesse trabalho”.

Andrea resumiu o clima da conversa, do set e do filme, “É difícil voltar pra casa e se deparar com os fantasmas do passado, especialmente no caso de Monica. Eu usei a câmera para mostrar, da forma mais íntima possível, as ações dos personagens que vão além das palavras. Por isso o filme não tem muitos diálogos. No cinema, como na vida, às vezes, o silêncio fala mais alto. Usamos isso. Mas esse elenco foi um presente tanto na frente das câmeras como nos bastidores. O relacionamento respeitoso e amigável entre todos faz o filme ser o que é. Esse foi um trabalho de uma equipe dedicada e talentosa, eu só tive a sorte de me cercar de pessoas sensacionais que me ajudaram a contar essa estória de uma forma realista, sem exageros, e com muita transparência. Nos olhos dos atores, enxergamos a alma desses personagens, sem precisarem falar nada, e isso pra mim é arte de verdade”.

Por amor à arte, faça um favor a você mesmo e a sua alma cinéfila e assista “Monica”, e não deixe de nos contar qual foi o impacto desse filme na sua vida. Porque uma coisa a gente tem certeza absoluta, não vai passar batido!

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