Série Adolescência e a importância da família se atualizar em relação ao mundo dos seus jovens

Ninguém escreve personagens e estórias sobre e para adolescentes tão bem como os britânicos que, por sinal, deixam Hollywood no chinelo.

Eu mencionei isso na primeira matéria que escrevi sobre “Sex Education” e repito aqui ao falar sobre a nova sensação da Netflix, a minissérie “Adolescência”.

 

 

Enquanto os roteiristas estadunidenses tendem a estereotipar os jovens, salvo em raras exceções, os ingleses escrevem jovens autênticos, seja em um drama, em uma comédia e, no caso de “Adolescência”, conseguiram fazer isso brilhantemente em uma série “true-crime”.

Em “Adolescência”, a vida da família Miller muda drasticamente quando Jamie (Owen Cooper), de 13 anos, é preso sob a acusação de assassinar uma colega de escola. Seu pai, Eddie (Stephen Graham), luta para compreender o que aconteceu, enquanto a psicóloga Briony Ariston (Erin Doherty) tenta desvendar a mente do garoto. O inspetor Luke Bascombe (Ashley Walters) lidera a investigação, determinado a descobrir a verdade por trás do crime. À medida que o caso avança, segredos são revelados e a linha entre inocência e culpa se torna cada vez mais tênue. A pressão da mídia e a opinião pública transformam a vida dos Miller em um pesadelo, colocando em xeque os laços familiares e a confiança entre pai e filho. Dirigida por Philip Barantini, a série marca mais uma colaboração entre ele e Stephen Graham, após o elogiado “O Chef”. Com uma abordagem intensa e realista, “Adolescência” explora o impacto devastador de uma acusação tão grave na vida de uma família, deixando no ar a pergunta: o que realmente aconteceu? Fonte: AdoroCinema

 

 

Eu concordo com George Clooney, que já disse mais de uma vez, que a base do sucesso de um filme ou série está no roteiro, porque o elenco pode ser sensacional, mas se o texto for ruim, não evolui.

Acho que em “Adolescência” fica muito claro o trabalho excepcional dos criadores Jack Thorne e Stephen Graham, que também interpreta o pai do protagonista. Não é uma história baseada em fatos mas, segundo Stephen, foi inspirada em uma notícia sobre um adolescente que cometeu assassinatos com faca. E, não é à toa, que virou um fenômeno desde o minuto que foi lançada na Netflix.

 

 

A minissérie emociona gente que não curte o gênero, pessoas que não têm filhos e serve de alerta para quem é responsável por criar uma criança e um adolescente hoje em dia.

O roteiro é fora do comum, tem muitas camadas e levanta mais questões do que responde perguntas, como eu gosto. E o que está na página é elevado à décima potência por um elenco espetacular, liderado pelo protagonista, Owen Cooper, que é uma estrela. Na verdade, todos os atores estão fantásticos, mesmo os jovens que têm uma participação menor. E, absolutamente todos os personagens, são importantes e marcantes, mesmo os que aparecem em apenas 1 cena.

 

 

Para completar a maestria, a direção caprichada e criativa de Philip Barantini. Ele optou por rodar os 4 episódios em plano sequência, ou seja, sem cortes, com apenas 1 câmera. A decisão do diretor foi corajosa, até porque, o público pode não ter noção disso, mas o plano sequência se não for muito bem orquestrado pode atrapalhar o desenvolvimento da narrativa. O que não aconteceu nesse caso. Muito pelo contrário, achei até que ajudou a dar mais intensidade e manter o foco, sem o vai e vem dos cortes, em cenas cruciais, com diálogos mais profundos.

Meu episódio predileto é o terceiro. O encontro de Jamie e da psicóloga Briony Ariston. Sua intérprete, Erin Doherty, deu um show à parte.

 

 

Mas é fato que “Adolescência” tem muitos momentos impactantes, inclusive questionando o próprio true-crime, quando, no episódio 2, a melhor amiga da vítima se revolta com o fato dela estar sendo ignorada, o que é comum nesses casos, inclusive na própria minissérie que faz isso intencionalmente.

Aliás, o roteiro aborda muitas questões e deixa claro como a sociedade (os pais, professores e a própria polícia) conhecem muito pouco do mundo digital, um universo paralelo onde os adolescentes vivem hoje.

 

 

O último episódio tem momentos que cortam o coração, ao mesmo tempo, que propõem uma reflexão às famílias, sem entregar nenhuma solução ou um pacote de dicas de “como criar seus filhos”. Pelo contrário, mostra reações muito humanas a tudo que aconteceu com os personagens até ali e termina sem receita, porque a vida não tem receita. Mas planta a ideia de como podemos ajudar a garotada, o que precisamos entender, desde os emojis nas mensagens de bullying até a discussão sobre “Incel”, que eu sinceramente não sabia o que significava até assistir a série. Compartilho abaixo um quadro explicativo sobre o tema:

 

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“Incel” é uma junção das palavras celibatário e involuntário – usada para descrever um homem sexualmente frustrado. Geralmente, a palavra é usada de uma forma pejorativa.

A Liga Anti-Difamação, que trabalha para combater o ódio e o extremismo, define os incels como “homens heterossexuais que culpam as mulheres e a sociedade pela sua falta de sucesso romântico”.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/lifestyle/o-que-e-incel-termo-citado-na-serie-adolescencia/

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Adolescência deixa claro o que ouvi na entrevista de Vanessa Cavalieri, juíza titular da Vara da Infância e do Juventude no Rio de Janeiro, no podcast Fio da Meada:

“Os pais acham que os filhos estão em casa e estão seguros, mas hoje em dia isso não é verdade.”

 

 

Na minha geração, por exemplo, quando eu chegava em casa de uma festa nos anos 80, minha mãe respirava aliviada. Agora não, os pais não tem ideia do que pode estar acontecendo na vida dos filhos quando eles lhes dão um computador e um telefone.

A dinâmica das relações entre os jovens no mundo digital é nova e completamente diferente de tudo que aprendemos e vivemos até hoje.

Por isso a série é tão importante. Estou feliz que se tornou um fenômeno mundial e parabenizo os britânicos pela produção autêntica.

Desconfio também que vai ser a grande estrela do Emmy Awards, com indicações em várias categorias. Torço por isso!

Aproveito pra deixar aqui o link do episódio do Fio da Meada com a juíza Vanessa Cavalieri, ela compartilha sua experiência na Vara da Infância e Juventude e diz como os pais podem ajudá-la a não prender seus filhos. Vale conferir:
https://open.spotify.com/episode/4UOhi7a9TkLs7fxlffck0E?si=wYPdQd1AS4iSRYVwwmNLCQ

 

 

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