The Handmaid’s Tale chega ao final e o elenco comenta o impacto da série

No clima atual, com a ascensão da extrema direita nos Estados Unidos e pelo mundo afora, a série “The Handmaid’s Tale” chega a sexta e última temporada parecendo mais documentário do que uma obra de ficção. E pensar que o seriado foi baseado no livro de Margaret Atwood que escreveu “O Conto de Aia”, em 1985. A talentosa autora canadense estava ligada nas ditaduras que dominaram a América do Sul, inclusive o Brasil, nos anos 70/80, e já sabia da vulnerabilidade da democracia nas grandes potências, como os EUA.

 

 

Quem é fã da série como eu, sabe que é muito triste testemunharmos a vida imitando a arte, nesse caso. Ao mesmo tempo, a última temporada do seriado, que já estreou na Paramount Plus no Brasil, promete uma revolução, que enche nossos corações de esperança que dias melhores virão.

Estive com Elizabeth Moss, Bradley Whitford, Yvonne Strahovski e a roteirista e produtora executiva, Yahlin Chang, no painel do Deadline Contenders, em LA.

 

 

Os atores e a produtora/roteirista falaram sobre o impacto da série na sociedade e em suas vidas e comentaram sobre a última temporada, sem dar spoilers. Os melhores momentos do papo estão abaixo:

 

 

Elizabeth Moss

Sobre fazer parte da série:
“Esse trabalho foi a minha vida nos últimos 9 anos. Eu não consigo imaginar o que teria sido a minha carreira, e mesmo a minha vida pessoal, se eu não tivesse dito sim quando me convidaram para fazer parte desse projeto. Eu fico muito feliz que tomei a decisão certa e embarquei nessa jornada incrível.”

 

 

Sobre a última temporada:
“A June sempre acredita no melhor das pessoas. E essa temporada é sobre escolhas, as escolhas para o bem e para o mal.”

Sobre a mensagem final:
“Para mim, que estou imersa na série nos últimos anos, a grande mensagem de “The Handmaid’s Tale” é de esperança e amor, ver a luz no fim do túnel. Eu espero que o público sinta isso também.”

 

Yahlin Chang

Sobre a última temporada:
“Essa é a nossa última chance de contar a estória desses refugiados, pessoas que perderam tudo, que viram seu país desaparecer diante dos seus olhos.

Ao mesmo tempo, essa temporada é uma carta de amor aos nossos fãs, que nos acompanharam todos esses anos. A gente tentou, da forma mais honesta e autêntica possível, honrar a jornada dos nossos personagens e dar ao público a recompensa que todos merecem.”

 

 

June e Serena:
“A relação entre a June e a Serena é uma das relações mais complexas entre duas mulheres, provavelmente, na história da TV.

Navega em vários sentidos, inclusive do abusador e da vítima. Serena quer o perdão da June e a June quer a redenção da Serena. Pra mim, é um prazer escrever a estória dessas mulheres, tão bem interpretadas por essas talentosas atrizes.”

 

 

Sobre a mensagem final:
“A maioria dos países é uma aristocracia, aparentemente é o que os seres humanos querem, mas, como June, eu espero que a gente siga lutando pelo que é certo. Não se conformando com o que nos é apresentado.”

 

Bradley Whitford

Sobre a última temporada:
“Meu personagem me decepciona muitas vezes, e eu sei que muita gente acha a série depressiva, até porque atualmente mais parece um documentário, mas é um misto de romance, estória de terror e retrato da realidade que eu espero que inspire as pessoas que assistem, essa última temporada nos ensina como ser resilientes.”

 

 

Sobre o livro:
“Eu cresci em um tempo que eu acreditava que democracia e inclusão eram inevitáveis. Acho que a mensagem principal do livro é que, na verdade, a democracia não existe, a decência não existe. Misoginia, racismo, facismo nunca vão desaparecer. Eu acho que estamos vivendo um momento onde percebemos que éramos inocentes acreditando que tudo isso ia sumir, mas a Margaret nunca foi inocente. Ela sempre soube que a democracia tem que ser construída e que temos que lutar para conquistá-la diariamente.”

 

 

Sobre a mensagem final:
“O governo não vai ajudar você. Atualmente, 64 mil mulheres vítimas de estupro estão grávidas nos EUA e não têm acesso ao aborto. A série é um grande sucesso, mas, como June, temos que lutar muito, temos que lutar constantemente pelo futuro que a gente almeja.”

 

Yvonne Strahovski

Sobre a Serena:
“É muito fácil julgar a Serena, até porque ela é uma pessoa desprezível. Eu discordo de quase tudo que ela faz. Ao mesmo tempo, para interpretá-la, eu preciso deixar o julgamento de lado e, de dentro pra fora, dar uma certa humanidade a ela. Essa foi a forma que encontrei de desenvolver essa personagem que é complexa.”

 

 

Sobre a Serena e a última temporada:
“O arco da Serena é muito intenso, eu posso dizer que a fé que a June tem nela impactou a jornada dela, ao longo das temporadas. A June quer abrir a mente retrograda e narcisista da Serena e mostrar a ela as consequências das suas atitudes na vida das pessoas ao seu redor. Isso teve um impacto positivo. Mas não posso falar mais nada do que vai acontecer nessa temporada.”

 

 

Sobre a mensagem final:
“Acho que eu falo em nome de todos nós, como estamos orgulhosos de fazer parte dessa série que não é só entretenimento, mas tem um significado tão importante, tanto o trabalho da Margaret, no livro, como o nosso na série, causou um impacto muito grande globalmente, o que nos deixa muito felizes, já que abordamos assuntos que, infelizmente, estão acontecendo, mas felizmente temos a oportunidade de chamar a atenção sobre essas pautas e isso foi uma conquista para todos nós.”

Eu entendo que a série seja um gatilho para muita gente, especialmente por conta das atrocidades que as mulheres sofrem, algumas vezes cometidas por outras mulheres. Mas, eu sou fã, tanto do olhar crítico e sensível da Margaret sobre a realidade e o futuro da humanidade, como da forma competente com que os produtores, diretores, atores e toda a equipe de ‘The Handmaid’s Tale’ desenvolveram o seriado. Eu dou nota 10 em todos os quesitos, roteiro, direção, performances e também a fotografia, o figurino e as locações. Tudo impecável.

Sem contar que eu acho que seriados como esse são necessários para manter, pelo menos, a parcela da população que assiste, alerta sobre as ameaças à democracia e à liberdade de expressão, como está acontecendo na vida real agora e, inspirada, a seguir lutando diariamente pelos seus direitos.”

 

 

Sinopse The Handmaid’s Tale seriado:


Depois que um atentado terrorista ceifa a vida do Presidente dos Estados Unidos e de grande parte dos outros políticos eleitos, uma facção catolica toma o poder com o intuito declarado de restaurar a paz. O grupo transforma o país na República de Gilead, instaurando um regime totalitário baseado nas leis do Antigo Testamento, retirando os direitos das minorias e das mulheres em especial. Em meio a isso tudo, Offred é uma “handmaid”, ou seja, uma mulher cujo único fim é procriar para manter os níveis demográficos da população. Na sua terceira atribuição, ela é entregue ao Comandante, um oficial de alto escalão do regime, e a relação sai dos rumos planejados pelo sistema. Fonte: AdoroCinema

 

 

 

 

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O Livro: O Conto de Aia da autora Margaret Atwood que inspirou a série:


O romance distópico “O conto da Aia”, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América.

Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político, ambiental e em prol das causas femininas, O conto da aia foi escrito em 1985 e inspirou a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original), produzida pelo canal de streaming Hulu em 2017.

As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado. A Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar, depois que uma catástrofe nuclear tornou estéril um grande número de pessoas. E sem dúvida, ainda que vigiada dia e noite e ceifada em seus direitos mais básicos, o destino de uma aia ainda é melhor que o das não-mulheres, como são chamadas aquelas que não podem ter filhos, as homossexuais, viúvas e feministas, condenadas a trabalhos forçados nas colônias, lugares onde o nível de radiação é mortífero.

Com esta história assustadora, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente.

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