Com 3 temporadas, a série Reservation Dogs é produzida e estrelada por nativos americanos

“Reservation Dogs” é a melhor série dos últimos tempos. Aquece nosso coração, nos diverte e surpreende, mais importante de tudo, nos ensina.

Depois de décadas vendo sua imagem destorcida pelo brancos que dominam a indústria do entretenimento, os nativos estadunidenses, finalmente, têm a chance de contar a sua própria história, de forma criativa, original, fiel a sua cultura, sua religião e sua arte.

“Reservation Dogs” foi co-criada pelo diretor Taika Waititi, que abriu as portas para talentosos profissionais nativos escreverem, dirigirem, produzirem e atuarem nessa comédia que é um dos melhores seriados criados nos últimos anos.

A série acompanha a vida de quatro jovens indígenas em uma pequena comunidade rural em Oklahoma. Eles passam o dia cometendo e combatendo crimes na expectativa de conseguir guardar dinheiro para viajar para a Califórnia. A trama explora com sensiblidade a vida de cada um dos jovens e desconstrói estereótipos sobre o que significa ser uma pessoa indígena nos EUA. (Fonte: AdoroCinema)

 

A terceira e (infelizmente) última temporada está no ar. O final foi anunciado pelos criadores, um pouco antes da estreia. Eles decidiram essa ser a hora certa para encerrar a trajetória dos personagens.

Aclamada pelos críticos e pela mídia, abraçada por um fandom apaixonado, a notícia do fim foi recebida com tristeza e, ao mesmo tempo, com a certeza de episódios brilhantes, que fazem jus à jornada dos nossos amados personagens, especialmente, os quatro jovens atores protagonistas D’Pharaoh Woon-A-Tai (Bear Smallhill), Devery Jacobs (Elora Danan), Lane Factor (Cheese), Paulina Alexis (Willie Jackie) que dão um show, aliás, como todo o elenco.

Se você já é fã, sabe que a última temporada está ainda melhor que imaginamos. Mas, se você ainda não assistiu, ainda dá tempo de começar a maratonar. Eu mesma assisti a primeira, enquanto a segunda estava sendo exibida. E esse foi um daqueles seriados que terminei viciada em tempo recorde, tamanho o seu brilhantismo.

O roteiro apresenta o cotidiano dessa comunidade e ressalta pontos importantes da cultura, como a espiritualidade, a relação com os mais velhos, a música, os rituais de passagem, abordando também o luto, o preconceito e o abandono. Mostra como vivem os nativos na zona rural, lembra que eles são os primeiros moradores e donos das terras nos EUA, antes da chegada do homem branco que os exterminou, escravizou e isolou. Destaque especial para o terceiro episódio da terceira temporada que mostra como as crianças indígenas eram separadas de suas famílias, abusadas emocionalmente e sexualmente por religiosos e pessoas brancas, além de terem sido escravizadas e assassinadas. Um pedaço vergonhoso da história dos EUA que, de certa forma, acontece até hoje com nativos, latinos, pretos e mulheres.

Em “Reservation Dogs” está o melhor dos EUA, que Hollywood sempre fez questão de deturpar, como fazemos no Brasil com o povo indígena até hoje.

A série conta de forma hilária e emocionante a verdadeira história dos nativos, mesclando todos os elementos das relações humanas, amor, medo, perda, conquistas, sonhos, aventura, com o sabor da juventude, fácil de nos identificarmos independente da nossa árvore genealógica. Descobrimos que no fundo, no fundo, somos todos iguais.

Além de rir e chorar, é uma oportunidade de aprender, entender e se conscientizar que grande parte dos seriados e filmes que consumimos durante muitos anos foram um desserviço pra nós, pois desvalorizavam as minorias que eram representadas através do olhar do homem branco, que escrevia, produzia e dirigia as séries e pintava o rosto para interpretar personagens indígenas.

Mesmo com passos de tartaruga, a indústria está caminhando para uma direção mais inclusiva. “Reservation Dogs” deu o pontapé inicial, mas esse é apenas o começo, espero que todos os talentos que contaram essa estória continuem trabalhando em Hollywood, produzindo, escrevendo e atuando em séries e filmes que mostrem a cultura do seu povo de dentro pra fora.

Lembrando que o sangue nativo corre nas veias de nós, brasileiros, e que a nossa indústria também precisa dessa revolução inclusiva. Torcendo pra que “Reservation Dogs” sirva de inspiração.

Trailer legendado:

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