Em entrevista ao HEA, Cara Delevingne mostra a que veio

logo_HEA_microfoneVestida sem o glamour da “supermodel”, com pouca maquiagem, Cara Delevingne entra na sala cumprimentando todo mundo, sua aparência entrega sua pouca idade e quando apontamos para ela onde deveria sentar sua resposta já transparece seu senso de humor apurado: “poxa, tem uma luz direcionada só pra essa cadeira. Por que sou a única que está na berlinda? Assim não posso falar besteira! Vamos mudar de lugar?” Diz ela rindo e olhando para cada um dos jornalistas sentados na mesa redonda, prontos para iniciar a entrevista com a intérprete de Margo Roth Spielgelman, na adaptação de “Cidades de Papel”, filme baseado no livro do aclamado John Green.

Nós respondemos à Cara com sorrisos e iniciamos um bate-papo que deixou todos os presentes impressionados com a honestidade, inteligência e maturidade desta jovem bem-sucedida na carreira de modelo, com mais de 16 milhões de seguidores no Instagram, que faz sua estreia na telona como atriz neste filme.

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Ao contrário dos âncoras do jornal “Good Morning Sacramento”, que na semana passada transmitiu uma entrevista em vídeo com Cara, que criticam o comportamento da atriz ao vivo, meus colegas e eu, que estivemos com ela na coletiva do filme em abril, em Los Angeles, saímos do nosso encontro fãs de carteirinha de DeLevingne.

A questão de Cara é que ela vai direto ao ponto, é objetiva, e não tem paciência para muito blá blá blá, ao contrário da maioria dos artistas que dão respostas prontas a perguntas mal elaboradas quando estão promovendo seus filmes em Hollywood. Cara, como boa britânica, usa e abusa do seu senso de humor, para responder àqueles que não fizeram a sua pesquisa que, por sinal, e imprescindível antes de uma boa entrevista.

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Mas nós fizemos nosso trabalho de casa e ao invés de perguntar a Cara se ela tinha lido “Cidades de Papel”, perguntamos a ela sobre o que achava do tema central da história, que gira em torno de “expectativas”: “é engraçado como todos nós temos a tendência de colocar as pessoas no pedestal e isso não é só coisa de adolescente, não. Eu mesmo faço isso, às vezes idolatro alguém, e quando eu conheço a pessoa descubro que ela é super babaca. Às vezes eu mal posso acreditar, até porque a gente leva um banho de água fria nessas horas. Mas a verdade é que somos todos humanos, temos qualidades e defeitos, e quanto mais as pessoas querem parecer perfeitas, mas elas se tornam idiotas. O que eu adoro na Margo, é que ela nunca tentou ser perfeita, ela é humana”.

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Ouvindo Cara falar lembrei que quando a Fox Filmes, produtora do filme, anunciou que ela seria Margo, eu fiquei preocupada. Este é meu livro favorito do John e essa é a personagem dele com a qual eu mais me identifico. Vítima da minha própria expectativa, eu julguei a imagem que criei de DeLevingne e coloquei o seu talento em prova. Aprendi a lição ao ver sua atuação brilhante na tela e, ao conhecê-la pessoalmente percebi que eu e ela temos muitas coisas em comum, como por exemplo, celebramos o adolescente que existe em nós, como Cara disse rindo: “Nós somos todos crianças. A gente está sentado em volta desta mesa fingindo ser adulto, mas no fundo no fundo, somos todos crianças.”

À medida que nosso papo com Cara evoluía, mais eu notava características da Margo em sua personalidade, e a própria atriz confessou: “quando eu li o livro eu me identifiquei imediatamente com ela. Engraçado que até frases que estão no livro e no roteiro, eu lia e ria, porque eu lembrava que muitas delas eu já tinha falado para as pessoas. Impressionante. E algumas aventuras que a Margo viveu, eu vivi também. Depois que eu a conheci no livro, o meu exercício foi buscar aquela menina dentro de mim. E a Margo é tão interessante que eu queria ser ainda mais parecida com ela.”

Não só o amor pela personagem fez DeLevingne se apaixonar por “Cidades de Papel” como ela mesma conta: “fazer este filme me ajudou a me reconectar comigo mesma, me lembrou como eu ainda sou jovem, e como sou uma criança. Claro que tenho que fazer meu Imposto de Renda e coisas chatas assim, mas no fundo sou uma moleca.”

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Além disso Cara diz que seus costars são seus amigos da vida e saudosa relembra os dias no set de filmagem: “A gente chorou quando as gravações terminaram. Nós temos um grupo (o elenco do filme) e trocamos mensagens de texto direto, nós ficamos muito amigos mesmo. Eu queria voltar no tempo e viver todos os dias novamente, porque às vezes quando a gente está vivendo uma experiência dessas a gente não dá o valor real que ela tem, sabe?!”

Nossa como sei Cara, mas não me contive e falei: “mas você aproveitou realmente a chance de estar pertinho de John Green, né?! ” Cara sorriu: “Isso com certeza. Eu estava super ansiosa para conhecer o John. Ele é tudo isso que vocês imaginam, muito sincero, hilário e um amor. Me senti muito segura depois da nossa primeira conversa porque ele me falou que não poderia ter imaginado alguém melhor para interpretar a Margo, que eu era a Margo que ele tinha em mente. E engraçado, às vezes eu perguntava alguma coisa para ele em relação a personagem e ele me falava: ‘você sabe, não preciso te responder isso, porque eu sei que você sabe’. Foi especial contar com o apoio dele.”

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Mas não só John conquistou o coração de Cara, Nat Wolff, intérprete de Quentin e seu parceiro nesta aventura entrou para a lista de suas pessoas favoritas no mundo: “Eu e o Nat combinamos que vamos fazer todos os filmes juntos a partir de agora, infelizmente ainda não rolou, mas faremos de tudo pra isso acontecer.”

Aliás, Cara é o que chamam em inglês de “People Person”, ou seja ela adora gente. Outro ponto forte que temos em comum, apesar da nossa diferença de idade (tenho 42 e ela, completa no próximo dia 12 de agosto, 23 anos, ou seja, poderia ser até minha filha), eu posso tranquilamente usar a definição dela sobre sua personalidade, para definir a minha: “eu tenho muitos amigos e todos de universos e personalidades diferentes. Pessoas são a minha família. Eu sou do tipo de gente que gosta de se divertir, claro, isso é fato, eu adoro curtir os momentos e amo pregar peças nas pessoas. Mas tem um lado meu que curte um drama, sentar e bater um papo sério também.”

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A sinceridade de Cara ao falar de sua vida de modelo famosa silencia a nossa mesa de jornalistas, que acostumados com o comportamento superficial das jovens celebridades nas entrevistas, nos deixa quase sem ação:

“Eu vejo fotos minhas e claro que aquela pessoa não sou eu. As vezes alguém chega e fala pra mim, nossa você está bonita, eu respondo, mas aquela ali não sou eu não! A minha foto sempre vai parecer bacana, porque alguém fez photoshop nela, eles querem que eu pareça bonita e por isso eu sei que vai ficar bonita de qualquer maneira.” Diz ela rindo, e complementa, “esse negócio de estar em um outdoor sobe à cabeça de algumas pessoas, porque não e possível, vocês acreditam que tem gente no entretenimento, pessoas famosas, que me perguntam com um ar de superioridade: ‘como você se sente fazendo parte do nosso mundo (de celebridades)?’ E eu respondo,: ‘eu não sou ninguém, porque? Quem você acha que você é me perguntando isso?’ Eu sinceramente acredito que não sou melhor que ninguém mesmo, todo mundo é absolutamente interessante a sua maneira. Eu adoro imperfeições, acho o perfeito super chato.” E continua, “depois a Cara que é honesta demais, mas fala sério, né?! Como responder a uma pergunta dessas?!”

E Cara não para por aí, não: “as pessoas deste meio artístico acham que a vida delas é glamourosa, mas para mim isso é trabalho, eu viajo o mundo sim, mas não tenho tempo de ver nenhum dos lugares que já estive, até estou pensando em tirar umas férias para efetivamente conhecer o mundo em breve. Por enquanto, é só ralação, que por sinal eu adoro, quando não estou trabalhando, estou pensando em trabalho, é uma loucura, um vício.”

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Depois que nos recuperamos do seu relato honesto sobre o meio que vive, perguntamos à Cara como ela relaxa nos poucos momentos que tem de folga: “escrevo bastante música e levo meu violão pra todos os lugares que vou, faço Ioga duas vezes por dia quando tenho tempo, de manhã e antes de dormir, funciona para relaxar, respirar um pouco e esquecer das besteiras que estão na minha cabeça, porque eu penso muita besteira mesmo.”

Mas você é tão pé no chão falei e meus colegas jornalistas concordaram. E Cara ri alto: “vocês acham que sou pé no chão? Eu acho que vivo nas nuvens a maior parte do tempo. Mas se vocês estão dizendo…eu acredito.”

O tempo passou muito rápido, sinceramente dá vontade de passar o dia, o final de semana conhecendo melhor esta interessante jovem, que não tem uma vida familiar tão fácil, cresceu tendo que enfrentar os desafios de uma mãe viciada em heroína e, ela mesma sofreu depressão e duelou com pensamentos suicidas, como conta na matéria da Revista Vogue. Talvez todo o seu histórico, seu passado, tenha contribuído para que ela seja tão segura das suas inseguranças e nos dê a impressão sim de ser pé no chão, especialmente quando diz: “quanto mais confortável você estiver com você mesmo, seja com a sua roupa, ou a maneira que você se comporta, a pessoa que você é, mais a sua segurança vai saltar aos olhos e contagiar o ambiente. Mesmo se você estiver nua, mas se você estiver confortável com você mesma, você vai passar toda a sua segurança. Porque você está se sentindo bem assim.”

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Sem dúvidas muito pouca gente que eu conheço de 30, 40 anos, que tem ou não haver com o entretenimento, pensa ou age assim. Conhecer alguém de 20 anos que se comporta desta forma é um choque bom para a nossa realidade cercada de pessoas que deixam de viver intensamente pois estão escravas da opinião alheia. Delevingne é um livro aberto e não esconde que ainda esta buscando seu entendimento pessoal, como Margo, sua personagem do coração.

Fascinados pela conversa, somos avisados que tínhamos tempo para apenas mais uma pergunta. Uma colega na mesa pede a vez e diz a Cara que é mãe de uma jovem de 18 anos que diz que os gêneros masculino e feminino não existem mais para a geração dela, mas a mãe (não a jornalista) gostaria de entender melhor este conceito, e pergunta a Cara se isso é verdade mesmo, pois ela está buscando ter um diálogo mais aberto com a filha.

Cara fica nitidamente honrada com a confiança de uma mãe em sua opinião e responde: “sua filha tem razão, este conceito de gêneros está chegando ao fim mesmo. E eu amo que isso vai acabar. Eu pertenço a esta geração também e acho que homens e mulheres são iguais. A sociedade é que força a gente a ser, a pensar e a agir diferente. E determina até como a gente deve se comportar uns com os outros. Temos que dar um fim nisso para o bem da própria sociedade. E, “Cidades de Papel” mesmo mostra isso apesar de ainda ter o grupo dos “meninos” e das “meninas”, eles trabalham juntos pelos seus objetivos de certa forma. Não é o máximo? Sua filha está certa. Escute ela!”

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E Cara, sorrindo agradece a presença de todos, nos deseja um bom final de semana (a entrevista foi numa sexta-feira), e diz que vai tentar aproveitar para se divertir um pouco revendo amigos em Los Angeles. Fiquei com vontade de me convidar para fazer um programa com ela, aliás fiquei tão encantada que pensei que se por milagre eu tivesse certeza que tendo uma filha ela seria parecia com Cara, eu até teria arriscado, porque essa menina é especial, uma força da natureza, veio pra causar mudanças profundas no meio que vive, como o impacto que causou na gente, sendo honesta, despretensiosa, direta, uma raridade que se destaca tanto pelo seu talento como pela sua personalidade segura de tantas inseguranças e sem vergonha de ser quem é.

 

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