Livro X Filme – Adaptações para o cinema

Quantas vezes nos pegamos dizendo “ah, o filme é legal, mas o livro é bem melhor”, ou “eu amei o livro, mas o filme não faz jus à história.

Eu mesma fazia bastante isso até, finalmente, entrar em um curso de roteiro de cinema na UCLA e entender de fato como a literatura é uma linguagem super diferente da mídia cinematográfica.

Imagine quão tedioso seria um filme que tivesse todos os detalhes de um livro de 500 páginas traduzido em imagens. Seria impossível financeiramente pois o filme ficaria longo e caro, além de não fazer o menor sentido.

Quando estudamos roteiro de cinema, nós aprendemos que podemos basear a nossa ideia em um simples anúncio de jornal, numa notícia que vimos na TV, e claro, em um livro. Mas, especialmente, quando usamos o livro como referência da nossa história, adaptações precisam ser feitas para que a mesma funcione na telona.

Por mais que seja um best-seller do New York Times e um campeão de vendas mundial, as palavras escritas nos livros, assim como a descrição de cada uma das situações, têm que ser modificadas para que funcionem no roteiro. Por isso, nos créditos aparece que um filme é sempre baseado no livro e nunca a descrição literal do livro, o que não seria apropriado.

50Tons

Desde o lançamento de “Cinquenta Tons de Cinza” há uma discussão grande acontecendo na mídia pois autora do livro E. L. James insiste em escrever o roteiro do segundo filme. Eu particularmente não sou muito fã de seu estilo literário e acho arriscado ela escrever o roteiro. Claro que ela criou os personagens e conhece como ninguém a história, mas o sucesso do primeiro filme está justamente no roteiro enxuto, escrito por Kelly Marcel, uma renomada roteirista e a fantástica diretora Sam Taylor-Johnson, que deu ao filme uma cor e um tom de muito bom gosto. Devido aos desentendimentos entre a autora do livro, Kelly e Sam enquanto escreviam o roteiro e durante as gravações do filme, ambas não voltarão para os dois outros filmes da série. A produtora Universal não pôde fazer muita coisa, já que quando comprou os direitos deu a James carta branca nas decisões, caso contrário ela não os venderia.

 

 

Eu particularmente acho uma pena esta insistência de E L James, autores de livros por mais brilhantes que sejam não necessariamente dominam a arte de escrever um bom roteiro cinematográfico. Suzanne Collins tentou e assinou a adaptação do primeiro filme de “Jogos Vorazes”. Adoro os livros e acho Suzanne um super talento, mas o primeiro filme da série é o que tem mais furos no roteiro. A sequência “Em Chamas” foi escrita por especialistas (Simon Beaufoy e Michael Arndt) que na minha opinião arrasaram.

Jogos Vorazes

 

Já John Green, Veronica Roth e Matthew Quick, autores de “A Culpa é das Estrelas”, “Insurgente” e “O Lado Bom Da Vida”, não interferiram de forma nenhuma na adaptação para o cinema de suas obras.

Insurgente

 

 

Como o filho que nasce e cresce, uma vez os direitos do livro vendidos, os produtores assumem a responsabilidade de fazer um filme que sim agrade aos fãs do livro mas que tenha vida própria no cinema.

Dos três mencionados acima, o que se manteve mais próximo foi “A Culpa é das Estrelas”, poucas mudanças foram feitas no roteiro, além claro, do básico, as histórias secundárias foram cortadas ou minimizadas. Já em “Insurgente”, uma grande alteração foi feita a fim de tornar o filme mais dinâmico e funcionou super bem, na minha opinião.

a-culpa-e-das-estrelas-john-green2

 

 

No caso de “O Lado Bom da Vida”, o livro é apenas uma inspiração para a história, que sofreu adaptações substanciais feitas pelo roteirista/diretor David O. Russell, que declarou publicamente que fez o filme em homenagem ao seu filho e a maior mudança da história foi a relação de Pat, personagem interpretado por Bradley Cooper e Pat Sr., Robert DeNiro, que no livro não tem um final feliz, e no filme sim.

O Lado Bom da Vida 1

 

 

É importante lembrar que nem todos os diálogos que lemos e nem todas as descrições que num livro ganham cor por conta da nossa imaginação, podem ser traduzidas literalmente quando se tem imagem e som. Algumas cenas ficam desconectadas e sem sentido na tela e por isso são transformadas para fazerem a história realmente andar quando ganha atores, trilha sonora, locações, figurino, maquiagem e todos os recursos que estão disponíveis no cinema.

Enquanto o livro e uma interpretação pessoal, um filme é o resultado do trabalho de uma equipe, da visão de um diretor, e claro da vida que os atores dão àqueles personagens.

Por isso, antes de julgarmos o que é melhor, talvez seja mais interessante entendermos que são mídias diferentes e tem que ser tratadas como tal.

Espero sinceramente que a Universal consiga administrar os desejos de E. L. James e montar uma equipe que possa repetir o sucesso de “50 Tons de Cinza” e não prejudicar os fãs do filme. Ou melhor ainda, James pode decidir se inspirar em John, Veronica, Matthew ou até na Suzanne e dar liberdade para um roteirista profissional cuidar da sua história, com respeito sim ao livro, mas fazendo as adequações necessárias para que o filme faca sentido. Agora só nos resta torcer.

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