O Sabor da Vida: Tivemos a honra de ficar frente a frente com Juliette Binoche em sessão especial

 

“Esse filme tem várias camadas, aborda vários assuntos e, se você pensar bem, se passa no século 19, mas é muito à frente do seu tempo. Eu sempre quis trabalhar com Tran Anh Hung (o diretor), era fã do trabalho dele, mas, no primeiro script que ele me mandou, o arco da personagem não estava consistente o suficiente, eu falei isso pra ele. Um mês depois, Tran volta com esse roteiro, basicamente o que vocês acabaram de ver. Redondo. Eu sou uma antagonista que é o suporte do personagem do Benoit, mas ela tem uma trajetória interessante o suficiente para elevar o protagonista. Eu gostei muito desse trabalho. Eu e Benoit já nos conhecíamos e tínhamos intimidade, o que facilitou o processo também. E, pensar que quase não aconteceu, porque a gente precisava filmar na primavera e a primavera não chegava nunca. O Tran já estava bastante ansioso. O inverno não acabava nunca. Mas um dia, finalmente, a estação chegou e a gente pode começar a rodar o filme. Foi um processo que valeu a pena.”

 

Ouvir Juliette Binoche comentar sobre o filme “O Sabor da Vida,” que é o representante da França na corrida do Oscar esse ano, foi um presente para a minha alma cinéfila, que ainda teve o prazer de participar de um coquetel com a presença desse ícone talentoso.

“O Sabor da Vida” mostra a relação entre Eugenie (Juliette Binoche), uma conceituada cozinheira, e Dodin (Benoit Magimel), para quem trabalha há 20 anos. Cada vez mais apaixonados um pelo outro, seu vínculo se transforma em um romance e dá origem a pratos deliciosos que impressionam até mesmo os chefs mais conceituados. Quando Dodin se depara com a relutância de Eugenie em se casar com ele, ele decide preparar uma refeição especial para ela que pode mudar o destino de ambos. Fonte: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-300959/

No filme, os personagens estão ou cozinhando ou saboreando os pratos em cenas longas, rodadas com movimentos de câmera que são a marca registrada do diretor, e nos transportam para dentro da cena. Cozinhar é uma arte e quando bem apresentada na telona, ganha um sabor especial. Fato que saímos da sessão com fome e, felizes, ao sermos recebidos com um jantar que simulava os pratos preparados pelos personagens, no coquetel que contou com a presença de Binoche.

No bate-papo depois da sessão, a atriz falou também sobre a sua relação com a cozinha, que foi fundamental para esse projeto: “eu adoro cozinhar. No dia a dia, às vezes é chato, tenho dois filhos e é aquela correria, afinal temos que preparar 3 refeições por dia. Mas eu curto e estou ensinando ao meus filhos o básico, eles também gostam. E a minha experiência pessoal, no caso desse filme, ajudou bastante, porque a gente de fato colocou a mão na massa, como vocês viram na tela. Éramos nós mesmos preparando aquela quantidade de pratos. Enquanto o Tran fazia a mágica dele com a câmera. Ficou bem espetacular”.

Eu amo o cinema francês, os personagens são pessoas de verdade, não são estereotipados, os roteiros são profundos, intensos, mesmo um drama ou uma comédia, têm um certo mistério, que reflete a cultura do país. Eu tive a sorte de assistir muitos filmes franceses, no Rio de Janeiro, onde temos mais acesso a filmes europeus do que em Hollywood, que restringe outras culturas para promover insanamente a indústria local e fazer com que todos acreditem que o único cinema que presta é produzido nos EUA, o que é um grande erro; mas faz parte do sistema capitalista, que enriquece os estúdios, arrecadando milhões para títulos com qualidade duvidosa.

Felizmente eu cresci numa cidade que me deu oportunidades de expandir meu conhecimento cinematográfico. Por exemplo, lembro até hoje do dia em que vi “A Liberdade é Azul”, protagonizado por Juliette Binoche, há mais de 30 anos. Aliás, foi nesse filme que me apaixonei por Juliette como atriz. Por isso, essa sessão privada de “O Sabor da Vida” foi tão especial pra mim. Já vi muita gente que admiro, mas é a primeira vez que encontro Binoche, que mora em Paris. Simpática, dona do refinado e sarcástico humor francês, ela não é só uma grande atriz, como uma mulher que revoluciona o papel das mulheres no cinema através dos personagens que interpreta.

Juliette Binoche faz projetos que me lembram constantemente porque me apaixonei pelo cinema, e porque assisto um filme da mesma forma que admiro obras de arte. Com “O Sabor da Vida” não foi diferente, saí da sessão inspirada e pronta pra “descascar” as camadas e ao mesmo tempo que decifro as mensagens do filme, reflito sobre a minha própria jornada. Isso é pura arte.

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vvvvv Aviso importante aos amigos vegetarianos e veganos: o filme tem longas cenas que mostram os personagens preparando pratos de carne, limpando frango e peixe. Fica o alerta para aqueles que não se sentem confortáveis com essas imagens.
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