“Carnival Row” estreia na Amazon Prime. Confira nossa entrevista com o elenco e produtores

A série “Carnival Row” estreia hoje na Amazon Prime e compartilhamos com vocês o papo que a nossa repórter Raquel Zambon teve com os atores Orlando Bloom, Tamzin Merchant e David Gyasi, e os produtores Marc Guggenheim e Travis Beacham, na San Diego Comic Con. Vem conferir o que ele nos contaram sobre a super produção estrelada por Cara Delevingne e Orlando Bloom.

Eu visitei a Amazon Experience, que ofereceu um insight muito bom dos temas do show. Para você, Orlando, como fazer parte de algo tão socialmente relevante afeta sua interpretação do personagem? Porque é uma premissa de fantasia, mas também é muito atual de acordo com nossa situação social.

OB: Ótima pergunta, obrigado. Primeiramente, foi um excelente presente e oportunidade participar deste show porque é realmente atual e eu sinto que fala sobre diversas questões relevantes que estão acontecendo no mundo hoje. Além disso, por estarmos neste mundo fantástico criado pelo cérebro incrível de Travis Beacham – que está sentado aqui – nós fomos capazes de examinar com humanidade algumas situações trágicas e desesperadoras que estão acontecendo no mundo, mas com uma visão objetiva e empática – porque estamos olhando para faunos, estamos olhando para criaturas mágicas. Isso nos permite sair de nós mesmos para olhar a situação e pensar ao redor dela. Tudo foi tão belamente construído pelo Travis e Marc no roteiro que foi um presente para todos nós. E claro que, como atores, nós sentimos certo senso de responsabilidade para entregar isso, mas tudo vem dos showrunners e do roteiro. Nós tivemos sorte com eles.

DG: Posso entrar nesta pergunta também? Eu tenho dois filhos e sou de origem africana. Eles estão mostrando sinais de quererem entrar nesta indústria. Temos o meu lado africano, que pensa que eles têm a opção de serem advogados, médicos ou engenheiros. E, então, temos o meu outro lado que pensa que, quando você quer entrar nesta indústria, o melhor conselho que eu tenho é sair, conversar com outros e ouvir, porque isso te ajuda a criar uma perspectiva sobre como os humanos funcionam. Então, como ator, quando você consegue uma oportunidade em um script que fala sobre o nosso mundo, é realmente um presente e uma honra.

O show fala sobre imigração, que é um tema que está sendo muito discutido na mídia por conta da separação de famílias. Como vocês acreditam que um show como este será digerido pela audiência neste momento?

MG: É importante. Eu acho que a arte faz com que as pessoas olhem para as questões e as discutam. Eu não sei se ela precisa fazer algo a mais que isso necessariamente, mas eu acho que diversos dos problemas que temos como sociedade estão no fato de que não falamos mais sobre as coisas. É ofensivo discutir algumas coisas e, como resultado, todos nos colocamos em bolhas. A melhor parte da arte é que ela pode ajudar a começar algumas destas conversas, que podem levar a uma sociedade mais saudável.

TB: Ao escrever e filmar este show, uma das comparações que surgiram foi com o trabalho de Charles Dickens. Geralmente, é uma comparação meio superficial porque o show é vitoriano e tem muitos personagens, mas eu sempre fui um fã de Dickens e isso me fez pensar nas coisas em que ele era bom. Eu tentei me inspirar ao criar o show na batalha que temos com as questões daquele tempo, mas de uma forma muito pessoal, conectada ao personagem e que não é polêmica, mas conta a história do que as pessoas estão passando através das dificuldades específicas de um personagem. Tem uma perspectiva realmente humana. Eu acho que é assim que tentamos escrever isso. A forma de contar a história é um ato de empatia, que lida com questões sociais ao descobrir a história de outras pessoas – seja uma questão de gênero, raça ou nacionalidade, de todas as formas em que uma população pode ser dividida e como essas classes interagem.

O mundo de “Carnival Row” parece tão ricamente imaginado. Qual foi a reação de cada um de vocês ao entrar nestes sets? Vocês têm algum aspecto favorito que os fãs devem ficar de olho?

OB: Posso responder isso antes? Eu estava tão empolgado quando entrei no set. Eu sou muito abençoado… Quando eu entrei no set de “Senhor dos Anéis”, aquela foi uma experiência inacreditável e que definiu um padrão muito alto. Mas eu fiquei tão feliz por andar em “Carnival Row” e ver o nível de detalhes… Quando você entra na loja Horrorspecs, é como se fosse um oráculo de fadas e bruxas. Eles têm essas poções e criaturas em jarras que você não poderia imaginar. Eu não poderia imaginar. Essa foi a parte mais empolgante quando eu li o script pela primeira vez: eu pensei que nunca tinha visto isso antes, e eu amo esse mundo de fantasia porque acho que você pode explorá-lo e ir a vários lugares com ele. Mas ver este mundo sendo materializado e criado… As cartas de tarô que criamos, com pele de cobra no verso, foram muito… Eu viro um geek com coisas assim! Eu realmente fico maluco com os detalhes. As jarras com as criaturas que eu nunca poderia ter imaginado foram colocadas lá.

MG: Um dos meus detalhes favoritos… É uma coisa pequena e eu não sei se vocês verão durante o show. Quando você anda até o final, temos uma barbearia que costumava ser uma barbearia para humanos. Parte dos anúncios na parede ilustra os tipos de cortes de cabelo que você podia fazer lá. Seja quem for a fada ou o fauno que assumiu o lugar, ele pintou chifres no topo dos cortes de cabelo. É algo pequeno, mas, de certa forma, estamos sempre fazendo isso e pensando em caminhos que não são os mais diretos. Mas é isso que torna tudo tão interessante e que faz tudo parecer tão autêntico.

TM: Eu já fiz muitos dramas de época, com muitos corseletes e bustiês. Eu nunca fiz um em que estou tomando chá com um homem que tem chifres. Isso, para mim, pareceu um playground, um playground completo que veio da mente do Travis para que possamos mergulhar. Este mundo no qual podemos brincar tem suas próprias convenções e traduções, sua própria mitologia e história. Você está entrando em um momento da história no qual não costumamos ver fantasia. Você geralmente entra, como o Travis disse, em um momento anterior da história. Mas agora estamos nesta era Vitoriana pós-industrial, com todas essas convenções sociais que são bem refinadas e complexas. A audiência é jogada no meio disso e eu acho que isso é muito legal.

DG: Só vou adicionar ao que todos já disseram. Para mim, são os detalhes. Vocês estiveram na experiência de imersão da Amazon e quantos podem dizer que já fizeram isso antes? Nós participamos também. Eles colocaram tantos detalhes e é tão grande, vasta e expansiva. Você está andando e vê um pouco de grafite. Em alguns momentos, você vê cascos e pernas, o que é incrível. Eles colocam o pelo individualmente para que pareça natural e permita a movimentação como um animal.

Tem algo que vocês estejam empolgados para que a audiência veja sobre seus personagens?

TM: Eu estou realmente empolgada para que as pessoas me vejam sendo difícil. Eu penso em mim mesma e sempre fui inglesa e bastante educada, na maior parte do tempo. Eu amo interpretar a Imogen porque ela surge com alguns comentários que não são adequados e é tão legal. Estou empolgada para que as pessoas vejam a Imogen Spurnrose desconfortável em sua própria pele e não aquele tipo de rainha do gelo dramática ou algo do tipo. Eu acho que ela tem vários lados… Na verdade, acho que todos os personagens femininos… As atrizes e mulheres que temos neste show são incríveis e interpretam personagens complexos lindamente. Isso é um presente incrível para mim também, fazer parte de um elenco de atores maravilhosos e com tantas mulheres incríveis. Estou muito empolgada para que as pessoas vejam personagens femininos complexos e multifacetados.

OB: Eu deixo o meu coração bem exposto às vezes e também sou culpado de me abrir demais. Foi realmente incrível interpretar um personagem que é fechado, que guarda segredos e que tem uma imensa empatia por este ambiente ao mesmo tempo. Absorver este tipo de… Temos uma masculinidade que é bem balanceada com um pouco de qualidades femininas, de certa forma. De apresentar empatia. Foi muito especial ter esse lado mais sombrio explorado um pouquinho. Os lados mais obscuros de um personagem e os motivos pelos quais ele se comporta de uma forma, sem explicar a ninguém. Foi divertido.

DG: O meu é similar de certa forma. Tenho muito interesse em hierarquia, classes, como tudo isso funciona e foi originado. No meu país, se você fala um pouco mais baixo, você já faz parte de uma classe específica. E não interessa quanto dinheiro você tem em sua conta bancária, você faz parte daquela classe. Em outros países, pode ser uma questão financeira, o que torna muito difícil conseguir entrar em uma classe. O meu personagem chega a Carnival Row, ele é um demônio e temos uma cena… O meu personagem chega, compra a maior casa na área mais rica, com dinheiro sobrando. Uma das minhas cenas favoritas – e eu não vi o primeiro episódio, então, não sei se entrou… Tem uma cena no final em que ele está sozinho nesta casa. Para responder sua pergunta sobre o aspecto mais interessante, acho que é como alguém faz isso e consegue sobreviver naquele lugar, consegue transformar a situação em um sucesso. Sou fascinado por explorar isso.

Minha pergunta é para o Sr. Beacham. Você mencionou Charles Dickens. Se você pudesse esculpir quatro escritores em seu próprio Mount Rushmore, quem eles seriam?

TB: Quatro escritores? Essa é difícil. Os primeiros que vem à mente são o próprio Dickens, Shakespeare e o Marc Guggenheim. Essa é uma pergunta muito difícil. Se você tivesse me perguntado em outro dia, acho que a resposta seria diferente. Eu amo Dune, do Frank Herbet. Foi um ponto de inspiração tão grande para a construção de mundos. Para mim, ele não só conta uma história como te leva a um lugar. Eu acho que um lugar é também um personagem porque afeta a forma com que os personagens vivem. Esses são os tipos de escritores em quem eu realmente acredito, aqueles que você pode ler e encontrar-se em outro lugar. Acho que, mesmo que minha resposta possa mudar a cada dia, você encontraria este ponto em comum em todas elas.

O que vocês acham desta transição televisiva que a Amazon está fazendo, com a qual você pode assistir a um show completo, de uma vez só, através de uma plataforma? Qual é a perspectiva de vocês para o futuro disso?

TB: É insano o quanto a indústria mudou. O primeiro show que eu desenvolvi foi apenas para uma network. Quando começamos a tentar vender “Carnival Row”, nós nem fomos para os canais principais. É isso mesmo que você está falando; nós temos essas plataformas que são marcas globais, com alcance global. Este é um excelente ângulo. Ter um show como este em uma plataforma como esta permite que você conte uma história global em uma perspectiva global. Isso é muito valioso.

TM: É empolgante ver que as pessoas podem dividir isso e fazer parte de uma comunidade global que compartilha o amor por um show em particular. Elas estão seguindo em uma jornada juntas de certa forma, enquanto são capazes de discutir e amar o show ao mesmo tempo. Além disso, spoilers se tornam um risco bem menor porque todo mundo pode assistir ao mesmo tempo.

OB: Poder explorar um personagem profundamente durante oito horas e, depois, compartilhar isso e ver as pessoas falando a respeito é um novo formato empolgante para se contar uma história e narrativa.

DG: O mesmo aqui. Tendo feito cinema e TV, às vezes, você fica restrito nestes gêneros porque o orçamento não é suficiente para TV e o tempo para explorar o personagem não é suficiente no filme. Então, misturar os dois é uma verdadeira alegria.

OB: As pessoas costumavam falar como se a TV fosse o irmão mais novo do filme e isso não é mais parte da conversa. Nunca houve um momento em que eu estivesse no set… Tudo era tão extenso e grande que se parecia com um filme de oito horas, como se estivéssemos em um set cinematográfico. Foi a minha primeira vez em um espaço de televisão e acho que esse tipo de ideia está ultrapassada agora. Como ator, é simplesmente divertido poder explorar um personagem como este.

Quantas cenas foram inspiradas por acontecimentos mundiais como o problema com refugiados?

MG: Nós tentamos não forçar nenhuma ideia demais para que você possa escolher quem representa o quê. Nós queríamos falar sobre estas questões sem apresentar uma parábola, mas criando um mundo que pareça real por si só. É um show que navega em mundos diferentes. Ele navega nas ruas, navega com os imigrantes e o que eles estão passando. Igualmente, ele navega em salas de estar e em residências de alta classe, com pessoas em posições de poder. As histórias deles são tão parte do show quanto as outras. A perspectiva do show é que uma história afeta a outra e tudo afeta tudo. É sobre encontrar a estrutura dessa teia e descobrir como tudo funciona.

TM: Eu acho que existe uma universalidade nesta história no sentido de que existem diferentes grupos de pessoas ao redor do mundo que estão perseguindo outras pessoas, tribos perseguindo outras tribos. Quando eu li o roteiro, fiquei impressionada por quão universal ele parecia, mas também por parecer muito específico para a nossa atualidade. Eu acho que esta é parte da mágica. Ele tem seu próprio tempo, mas também reflete e representa o que estamos passando agora. Essa é a alegria em atuar, porque temos um senso de relevância que parece bem capturado pela história, mas também temos uma história inventada que tem sua própria relevância. É extraordinário.

OB: É tão autêntico. Nosso fauno pode representar, caso você deseje, a crise de refugiados. Temos faunos e fadas que são tão reais, tão tangíveis. Você pode identificar sem associar demais. Isso permite que você tenha perspectiva e observe do lado de fora, mas o show ainda associa o problema de forma inteligente. É por isso que o aspecto fantasioso funciona tão bem. Ele não é forçado em você. É uma forma sutil de narrativa que te insere no cenário completo, o que funciona muito bem.


Trailer legendado:

Estivemos na festa de lançamento da série com Orlando Bloom e Cara Delevigne. Contamos tudo aqui:

https://www.hollywoodeaqui.com/lancamento-de-carnival-row-e-destaque-da-comic-con-2019/

 

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